“Fui europeia antes de ter percebido que era alemã”.
A frase é de Ursula von der Leyen, 65 anos, ex-ministra de defesa da Alemanha, atual presidente da Comissão Europeia, candidata à reeleição e demonstra seu compromisso em relação a uma região que nos últimos anos tem enfrentado várias dificuldades: uma importante defecção representada pelo Brexit; inflação; desafios na questão migratória e na segurança; tensões geopolíticas.
O anúncio da candidatura à reeleição é uma peça importante do quebra-cabeças do bloco que está sendo montado para os próximos anos. “Prosperidade, segurança, democracia. É com isso que as pessoas estão preocupadas nestes tempos difíceis” diz von der Leyen ao acentuar que suas prioridades nos próximos anos, caso se confirme sua recondução ao cargo, serão crescimento econômico, o combate à imigração irregular, apoio a empresas e agricultores e o reforço da capacidade de defesa da Europa.
Nos últimos anos a política alemã se destacou pelas respostas em relação à Covid-19 e os esforços pela recuperação econômica do bloco europeu pós-pandemia, bem como pela enfática defesa da democracia e as duras críticas à invasão da Ucrânia pela Rússia. Essas críticas incluíram, por sinal, acusações de extremismo e chantagem. Ela tem trabalhado intensamente nos esforços da UE para promover fontes renováveis como energia solar e eólica, tanto como resultado do engajamento na luta contra o aquecimento global como em função da busca de alternativas ao carvão e ao gás russo.
Durante seu mandato ela viu de perto a aproximação de China e Rússia; o aumento das tensões entre Estados Unidos e China; o crescente antagonismo de Moscou em relação a Europa de forma geral. E endossou o decorrente fortalecimento da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que ganhou dois importantes membros: Finlândia e Suécia, países tradicionalmente neutros mas agora especialmente preocupados com a crescente movimentação militar de Moscou.
Antes de se tornar presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen já havia se tornado uma figura proeminente da política alemã e internacional. Se reeleita, von der Leyen permanecerá à frente da UE pelos próximos cinco anos, desempenhando um papel crucial na atribuição de ministérios, participando de reuniões do G8 e representando o bloco em questões internacionais.
À medida que as eleições se aproximam, a candidatura de Ursula von der Leyen ganha relevância como fator de continuidade desejável em tempos de incertezas e de avanço da extrema direita em diversos países do bloco.
Embora favorita, a candidatura de Ursula von der Leyen depende das eleições do Parlamento Europeu, que se realizam entre 6 e 9 de junho. O PPE, partido de von der Leyen, já tem a maior bancada da casa e que deve manter essa condição segundo apontam todas as previsões. Se isso ocorrer a sigla terá as melhores condições para indicar novamente a líder alemã.
Após a indicação, seu nome (ou do nome de candidato alternativo) a presidente precisa ser aprovada por pelo menos 361 dos 720 eurodeputados no Parlamento, que se reúne alternadamente em Estrasburgo na França e Bruxelas na Bélgica.
A expectativa é que essa votação ocorra na segunda quinzena de julho, antes do recesso de verão do hemisfério norte.
Em 2019, Von der Leyen correu por fora para a presidência da Comissão Europeia. Surpreendeu e foi aprovada com uma margem de apenas nove votos. Costuras políticas nos bastidores tentam agora evitar um novo susto na eleição deste ano.