Projeto sueco oferece "emprego eterno" com salário de R$ 9 mil para não fazer nada

Misto de experimento social e crítica política, iniciativa vai selecionar uma pessoa para ficar encarregada apenas de acender e apagar as luzes de uma estação de trem

08 de março de 2019 4 minutos
Europeanway

Que tal passar o seu dia assistindo a séries ou filmes, lendo livros, passeando ou apenas dormindo? E recebendo para isso um salário de o equivalente a R$ 9 mil? E mais: para cumprir essa rotina, ter ainda plano de aposentadoria, reajustes de salário anuais e direito a férias, como qualquer trabalhador?

Por trás da inusitada oferta está um projeto artístico dos responsáveis pela construção da estação ferroviária de Korsvägen, em Gotemburgo (foto), a segunda maior cidade da Suécia. Não há qualquer exigência para quem deseja se candidatar ao trabalho. Barreira de língua não é problema.

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As inscrições para o projeto "Emprego Eterno" estarão abertas apenas a partir de 2025, quando a estação estiver mais perto de sua inauguração, prevista para 2026. Na prática, há apenas duas exigências: a primeira, ir à estação no início da manhã para acender a luz; a outra, no fim do dia, para apagá-la. No resto do tempo, o contratado poderá fazer o que desejar, sem se reportar a ninguém.

De onde virá o dinheiro? De Simon Goldin e Jakob Senneby, artistas suecos que, após um processo de seleção, foram escolhidos para conduzir o projeto artístico da estação. Para a tarefa, eles receberam cerca de R$ 3 milhões, dinheiro que será todo destinado a pagar o funcionário a ser selecionado.

Mas por quê? O projeto "Emprego Eterno" é um misto de experimento social e manifestação política. Com a iniciativa, os idealizadores pretendem criticar a automação que tem ameaçado um grande número de empregos mundo afora. Goldin e Senneby temem que mesmo a arte esteja se tornando obsoleta com o avanço da tecnologia. Para isso, estão usando o dinheiro da arte para sustentar um emprego inútil e totalmente improdutivo.

“Em face da automação em massa e da inteligência artificial, a ameaça/promessa iminente é que todos nos tornaremos produtivamente supérfluos”, disse a dupla na proposta que apresentaram para o projeto. "Todos nós vamos estar 'empregados em Korsvägen', por assim dizer."

Goldin e Senneby também citaram a teoria do economista francês Thomas Piketty – que se tornou mundialmente conhecido com o livro O Capital no Século XXI (2013) – em que ele diz que a riqueza do planeta tem crescido a uma taxa que supera os aumentos nos salários dos trabalhadores. O resultado, Piketty argumenta, é uma lacuna cada vez maior entre os extremamente ricos e todos os outros – ou, em outras palavras, o aumento da desigualdade.

Com base nesse mesmo cálculo, os artistas previram que, ao criar uma fundação – assim o dinheiro não será engolido pelos impostos – e, em seguida, investir no mercado, eles poderiam continuar pagando o salário desse funcionário "pela eternidade” – que eles definiram como 120 anos.

Enquanto as inscrições para o "emprego eterno" não abrem, clique aqui e conheça a descrição das funções do futuro contratado – que poderá ser um felizardo, mas também um trabalhador extremamente entediado.

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