
Executivos das principais companhias aéreas da Europa estão pressionando a União Europeia (UE) a flexibilizar suas regras ambientais, refletindo as dificuldades do setor aéreo para atingir as metas de descarbonização. A iniciativa, liderada por companhias como Ryanair, Lufthansa, Air France-KLM e International Airlines Group (IAG, grupo proprietário da British Airways e Iberia), pede uma revisão das normas que obrigam fornecedores a disponibilizarem combustíveis sustentáveis (SAF – Sustainable Aviation Fuel) em aeroportos europeus.
Atualmente, a legislação europeia exige que as companhias aéreas utilizem 2% de SAF já em 2025, aumentando progressivamente até atingir 6% até 2030. Esses combustíveis sustentáveis, frequentemente produzidos a partir de óleo de cozinha reciclado e outras fontes orgânicas, podem reduzir as emissões líquidas de carbono em cerca de 70% comparados ao querosene fóssil tradicional. No entanto, os custos elevados, geralmente entre duas a cinco vezes mais caros que os combustíveis convencionais, e a baixa disponibilidade têm dificultado a adesão plena do setor.
Luis Gallego, CEO da IAG, afirmou que, sem ações imediatas, “a única solução realista é postergar as exigências previstas para 2030”. A Ryanair também se posicionou claramente, com o CEO Michael O’Leary destacando que “se não houver oferta suficiente, a compra simplesmente não será viável”.
Um relatório da UE, divulgado pelo Financial Times, levantou dúvidas sobre a eficácia do sistema global Corsia (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), que é adotado pela indústria aérea global para compensar emissões de CO2 através de créditos de carbono e outras medidas compensatórias. O estudo europeu concluiu que o Corsia corre o risco de ser ineficaz, mal aplicado e potencialmente prejudicial às políticas climáticas europeias.
Paralelamente, novas regras adotadas pela UE reforçam o uso do sistema de comércio de emissões (ETS – Emissions Trading System), disponibilizando cerca de €1,6 bilhão em subsídios para estimular a adoção de combustíveis alternativos. Essa iniciativa tenta equilibrar o custo dos combustíveis sustentáveis com o querosene fóssil.
Diane Vitry, diretora da Transport and Environment, uma ONG ambiental, alertou que as companhias aéreas podem estar aproveitando uma “tendência anti-ecológica”, frustrando clientes que buscam opções mais sustentáveis.
Nesse contexto, a UE enfrenta um dilema complexo: conciliar suas ambiciosas metas climáticas, como reduzir em pelo menos 55% as emissões líquidas até 2030 em comparação aos níveis de 1990, com as pressões econômicas de uma indústria aérea em crise. Segundo dados da Agência Europeia do Ambiente, a poluição atmosférica continua sendo o principal risco ambiental para a saúde dos europeus, tornando ainda mais urgente a resolução desse impasse. O resultado desse debate terá implicações significativas para o futuro das políticas ambientais e econômicas na Europa.