Portugal reconquista a coroa do turismo europeu em mercado cada vez mais competitivo

24 de outubro de 2025 4 minutos
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Quando os holofotes se acenderam na Sardenha na última quarta-feira, o destaque foi menos uma surpresa e mais uma confirmação: Portugal voltou a erguer o troféu de “Melhor Destino da Europa” nos World Travel Awards, recuperando um título que havia perdido para a Grécia em 2024. Mas os números por trás da celebração contam uma história mais complexa, de um setor em plena expansão que enfrenta desafios crescentes de sustentabilidade e competitividade em um continente cada vez mais disputado.

A vitória lusitana na 32ª edição do que é conhecido como o “Oscar do turismo” representa a sétima conquista desde 2017. O contexto, porém, é revelador: Portugal somou 23 prêmios europeus este ano, oito a menos que em 2024, quando recebeu 31 distinções. A redução sugere uma intensificação da competição continental, com a Grécia mostrando força ao arrecadar 20 prêmios europeus e 35 nacionais.

Números robustos em cenário competitivo

Os dados macroeconômicos sustentam a performance portuguesa. Em 2024, o país registrou 31,6 milhões de hóspedes nos estabelecimentos de hospedagem turística – crescimento de 5,2% em relação ao ano anterior – e 80,3 milhões de pernoites. As receitas turísticas totalizaram 27,7 bilhões de euros, um salto de 8,8% em relação a 2023, segundo o Instituto Nacional de Estatística.

Para 2025, as projeções apontam 33 milhões de visitantes. Segundo a Conta Satélite do Turismo, o setor contribuiu com 34 bilhões de euros para o PIB português em 2024 – equivalente a 11,9% da economia nacional. São números que colocam o turismo como pilar central da economia lusitana, mas que também expõem vulnerabilidades estruturais, como a concentração de visitantes em Lisboa, Porto e Algarve.

A competição europeia espelha dinâmicas geopolíticas mais amplas. A Grécia, vencedora em 2024, demonstra estratégia agressiva de diversificação: Atenas foi eleita melhor cidade cultural da Europa, enquanto a região da Macedônia Oriental e Trácia conquistou o título de destino turístico emergente. A França manteve-se como principal destino cultural europeu. A Croácia, com Dubrovnik, revalidou pela terceira vez consecutiva o prêmio de melhor destino de cruzeiros. Até a Geórgia entra na disputa, com Batumi eleita melhor cidade para visitar em todas as estações.

Entre os destaques portugueses, a Madeira conquistou pela 11ª vez o título de melhor destino insular da Europa. Lisboa voltou a ser reconhecida como a melhor cidade para viagens urbanas curtas, pela sexta vez, enquanto o Porto liderou na categoria de melhores destinos urbanos. Mas a competição se intensifica: a Espanha viu Huesca La Magia conquistar o prêmio de melhor destino para turismo de aventura, “destronando” os Açores.

Desafios além dos prêmios

O que está em jogo ultrapassa questões de prestígio. O turismo tornou-se ferramenta de influência internacional, mas também gera tensões: o excesso de visitantes em destinos icônicos como Lisboa, Barcelona e Veneza provocou protestos locais e forçou governos a adotar medidas restritivas, desde limitações ao aluguel de curta temporada até taxas turísticas mais elevadas.

Portugal enfrenta críticas crescentes relacionadas ao impacto do turismo sobre o mercado imobiliário, com a expulsão de moradores de bairros históricos e escassez de moradia acessível. O Instituto de Planejamento e Desenvolvimento do Turismo aponta a sustentabilidade como prioridade para 19% dos especialistas consultados, enquanto 16% destacam a necessidade de melhorar infraestruturas.

A Europa mantém-se como a região turística mais consolidada do mundo, mas enfrenta pressões de custos crescentes, mudanças climáticas e transformações nas preferências dos consumidores – que cada vez mais buscam experiências autênticas e sustentáveis.

Para Portugal, o desafio é claro: transformar prêmios internacionais em políticas públicas eficazes que garantam que o crescimento turístico beneficie não apenas o PIB, mas também as comunidades locais. A distinção de “Melhor Destino da Europa” é, ao mesmo tempo, reconhecimento e responsabilidade.

 

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Europeanway

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