Desde segunda-feira, figuras de alto escalão do regime de Nicolás Maduro e importantes dirigentes da oposição estão em mais uma rodada de encontros para tentar achar uma saída para a crise da Venezuela – e esse diálogo não ocorre em solo venezuelano nem mesmo em algum país vizinho, como o Brasil, mas sim em Oslo, a convite do próprio governo norueguês. Mas por que é a Noruega que tem liderado essas tratativas?
O país escandinavo tem uma longa tradição de mediadora em processos de paz, como o que existe entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que data de 2016. Não é casual o fato de a Noruega ser a anfitriã do Prêmio Nobel da Paz, que tem sua cerimônia realizada em Oslo sempre a cada dia 10 de dezembro e é entregue pelo presidente do Comitê Norueguês do Nobel, na presença do rei e da rainha noruegueses.
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Também foi na Noruega que israelenses e palestinos realizaram uma série de reuniões clandestinas nos anos 90 para negociar a paz depois que as relações entre as duas nações atingiram um ponto crítico, em 1992. Até a decisão norueguesa de receber os encontros, qualquer comunicação entre as partes era castigada com a prisão. As reuniões secretas viraram tema do documentário The Oslo Diaries, lançado em 2018 no festival americano de Sundance e produzido pelo canal HBO.
A sobriedade e a equidistândia mantidas pela diplomacia da Noruega em relação à crise venezuelana explicam por que governo e oposição, ainda que em meio a uma disputa que já se arrasta há meses, aceitaram o convite norueguês para o diálogo. Ao contrário dos Estados Unidos, do Brasil e de uma série de países europeus, a Noruega, que não faz parte da União Europeia, não reconhece o oposicionista Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. O governo norueguês, no entanto, quer que Maduro e a oposição convoquem novas eleições.
Em um documento assinado por Guaidó e divulgado no último fim de semana, o líder da oposição afirmou que aceitaria o convite norueguês para "explorar uma possível saída negociada da ditadura e desta grave crise". No texto, o autoproclamado presidente pede eleições livres: "A negociação é aquela que nos leve ao fim da usurpação, transição e eleições livres", escreveu.
Maduro, por sua vez, publicou no Twitter uma mensagem em que agradece ao governo da Noruega "pelos esforços para avançar pelos diálogos de paz e estabilidade na Venezuela". "Viaja a Oslo nossa delegação bem disposta a trabalhar com a agenda acordada e avançar na construção de bons acordos", tuitou Maduro.