Por que a Groenlândia não declara independência da Dinamarca, mesmo com apoio popular

Ilha tem governo, Parlamento, hino, bandeira e até língua própria, mas 60% de seu orçamento ainda depende de repasses dinamarqueses

11 de janeiro de 2019 3 minutos
Europeanway

A Groenlândia tem hino e bandeira próprios, um idioma para chamar de seu, o groenlandês, um território imenso e, desde 2009, tem também um Parlamento, que elege o primeiro-ministro. O que a Groenlândia ainda não tem é independência completa da Dinamarca, embora seja considerada um território autônomo desde 1979. Mas por quê?

Um levantamento recente mostra que a maioria dos habitantes dessa ilha tão gigante quanto vazia – são apenas 54 mil pessoas a ocupar 2,16 milhões de quilômetros quadrados, área equivalente às das regiões Sul e Nordeste do Brasil somadas – é favorável à independência. Segundo a pesquisa "Greenlandic Perspectives Survey", na qual foram ouvidas 606 pessoas, dois terços (67,8%) dos entrevistados querem a independência em algum momento. A maioria acredita que o ano de 2037 pode ser um bom momento para essa transição, como registra o jornal The Copenhagen Post.

Na mesma pesquisa, 62,7% disseram acreditar que a economia da ilha sairia ganhando com a conquista da independência, mas há quem argumente que cortar os laços com a Dinamarca terá ramificações econômicas negativas – e aí pode estar o cerne da razão para que a independência não seja buscada com tanto afinco, mesmo havendo apoio para isso.

"Foi surpreendente ver como são diferentes as visões dos lados sim e não sobre as conseqüências econômicas negativas de uma potencial independência", disse ao jornal Weekendavisen Gustav Agneman, estudante de doutorado do Departamento de Economia da Universidade de Copenhague e um dos autores da pesquisa. "Não dá para os dois lados estarem certos. Construir uma ponte entre eles será importante no futuro para que uma parte da população não fique muito surpresa [se a independência vier]."

A Groenlândia tem recursos naturais abundantes, mas é o repasse de dinheiro feito pelo governo da Dinamarca que assegura a maior parte da receita do território. Os cerca de US$ 600 milhões em repasses anuais correspondem a 60% do orçamento da ilha.

Independente da Dinamarca, o repasse deixaria de existir, o que imediatamente transformaria a Groenlândia em um dos países mais pobres da Europa. "A independência sempre foi um tema frequente na política da Groenlândia. No entanto, as questões centrais debatidas não são se a independência deve ser buscada, mas sim a rapidez e sob quais termos", disse à rede CNBC Ana Andrade, analista da Groenlândia na Economist Intelligence Unit, unidade de pesquisas da revista The Economist.

Um resumo do raciocínio para que a independência não venha, mesmo que aparentemente as condições para isso existam, apareceu em pesquisa feita pelo jornal Sermitsiaq: nela, 78% dos entrevistados disseram que não apoiariam a causa se isso significar o declínio nos padrões de vida.

 

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