Política internacional brasileira será estratégica na Europa, conta o jornalista Vicente Nunes

21 de dezembro de 2022 4 minutos
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O European Way traz entrevista com Vicente Nunes, correspondente do Correio Braziliense na Europa, baseado em Portugal. Com passagens pelo Jornal do Comércio, O Globo, Jornal do Brasil, Estado de S. Paulo e Gazeta Mercantil, Vicente Nunes atua há mais de 30 anos como jornalista e venceu três prêmios Esso de Jornalismo Econômico. Ele conta que a percepção é de que o Brasil deve retomar as parcerias com os europeus e os líderes do continente já disseram estar com saudades do Brasil de volta ao cenário global.

European Way:Em termos de parcerias entre Brasil e Portugal, ou mesmo com outras nações europeias, como isso está sendo visto a partir da ótica de quem está no exterior?

Vicente Nunes: Infelizmente, nos últimos quatro anos, o Brasil se afastou dos acordos e das parcerias internacionais. Historicamente, o Brasil sempre foi muito ativo na aproximação com parceiros estratégicos, como Portugal. Mas, por visão ideológica, distanciou-se muito da Europa, crítica feroz da política brasileira para o meio ambiente. Isso foi muito ruim para o Brasil. Com Lula no governo, isso tende a mudar.

European Way: Um dos grandes desafios para o próximo governo é conciliar a agenda ambiental e a necessidade de manter seus níveis de produção de grãos, carnes, além de produtos de mineração, fundamentais para a Balança Comercial Brasileira. Como os países europeus ou da sua área de atuação têm avaliado essa questão?

Vicente Nunes: A percepção é de que a Europa está disposta a retomar as relações com o Brasil, não só política, mas econômica. O Brasil é estratégico para os países europeus, mas terá de mudar muito a rota de sua política ambiental. Creio que se chegará a um consenso que não atrapalhe os interesses comerciais do Brasil, mas também atenda à visão europeia de maior proteção ao meio ambiente. Os líderes europeus, em maioria, disseram estar com saudades do Brasil, que volta ao cenário global.

European Way: As questões relacionadas aos Direitos Humanos, políticas sociais e, em especial, o combate à fome estão na agenda de prioridades do Brasil. Na sua opinião, sendo o Brasil um país tão rico e tão desigual, prejudica a imagem no exterior?

Vicente Nunes: Nada prejudicou mais a imagem do Brasil no exterior do que a forma como Jair Bolsonaro governou o pais, sem nenhum compromisso com o social, os direitos humanos e o meio ambiente. A aposta no mundo hoje é de que o Brasil, finalmente, retomará políticas para reduzir as desigualdades sociais e para conter o desmatamento, além, é claro, do respeito à democracia e às liberdades individuais. 

European Way: Quais são os principais desafios do Brasil para a recuperação de sua imagem internacional?

Vicente Nunes: Conduzir uma política econômica consistente, com responsabilidade social e comprometida com as questões ambientais. O Brasil já deu mostras de que é possível seguir nesse caminho. 

European Way: Na sua experiência profissional, qual a sua avaliação em relação ao interesse das nações que acompanha sobre as temáticas do Brasil? 

Vicente Nunes: O interesse sobre o Brasil cresceu demais. A eleição de Lula para à Presidência da República tende a dar ainda maior visibilidade ao país, sobretudo com a questão ambiental no topo das preocupações do planeta, e porque, hoje, não há um líder global que tenha o carisma do brasileiro. Vamos ver como ele e o país tirarão proveito disso. 

European Way: Para além da Amazônia, o que mais se fala sobre o Brasil?

Vicente Nunes: Fala-se muito. O Brasil é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo e o único com área disponível para ampliar o plantio e a colheita. Além disso, tem um dos maiores mercados consumidores a ser explorado, caso promova um novo processo de ascensão social. Portanto, será um ator global, com peso nas discussões nos principais fóruns multilaterais.

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