
Em um continente que carrega as cicatrizes de regimes autoritários e guerras, a democracia ainda encontra respaldo entre a juventude europeia. Mas esse apoio, embora majoritário, não é incondicional. Uma pesquisa realizada pela TUI Foundation em parceria com a YouGov revela uma geração dividida entre a defesa do regime democrático e a frustração com seus resultados. E, em alguns casos, com sua própria existência.
Segundo o levantamento, realizado com 6.703 jovens de 16 a 26 anos em sete países (Alemanha, França, Espanha, Itália, Grécia, Polônia e Reino Unido), 57% dos entrevistados afirmam preferir a democracia a qualquer outro modelo de governo. No entanto, 48% acreditam que esse sistema está em risco em seus próprios países.
Democracia sim, mas sob condição
Talvez o dado mais inquietante do estudo esteja no recorte que revela que 21% dos jovens europeus aceitariam um governo autoritário “em determinadas circunstâncias”. A ambiguidade se intensifica entre aqueles que se consideram de direita e economicamente desfavorecidos — entre eles, o apoio à democracia cai para apenas um terço. Um alerta que, segundo o professor Thorsten Faas, da Universidade Livre de Berlim, evidencia a pressão que a democracia sofre tanto de fora quanto de dentro.
Alemanha é onde o apoio à democracia é mais sólido (71%), enquanto Polônia (48%) e França (52%) apresentam números mais frágeis. Paralelamente, o número de jovens que se identificam como de direita cresceu de 14% para 19% nos últimos quatro anos, o que pode refletir tanto uma mudança ideológica quanto um sentimento de desalento com a política institucional.
O sentimento pró-União Europeia segue prevalente: 66% dos entrevistados veem a permanência no bloco como positiva, e 73% dos britânicos apoiam o retorno do Reino Unido à UE. Ainda assim, há críticas relevantes à forma como o projeto europeu é conduzido.
Mais da metade dos jovens (51%) consideram que “a UE é uma boa ideia, mas mal implementada”. E 40% veem falhas em seu funcionamento democrático. Entre os jovens gregos, o euroceticismo é ainda mais acentuado: 63% concordam que a execução do projeto europeu está aquém do ideal.
As críticas não se limitam à forma. Há também questionamentos sobre as prioridades da União. Para 53% dos entrevistados, a UE gasta tempo e esforço em questões triviais, quando deveria se concentrar em desafios concretos como o custo de vida, a segurança continental e a criação de melhores condições para as empresas.
Outro sinal da inflexão conservadora é a mudança de percepção sobre a imigração. Se em 2021 apenas 26% defendiam políticas mais rígidas, agora esse índice saltou para 38%. O movimento é coerente com a guinada à direita identificada em outros levantamentos e se conecta à narrativa de que o Estado falha ao garantir segurança, prosperidade e identidade cultural.
Os dados não revelam uma rejeição à democracia, mas sim um apelo por renovação. Os jovens esperam mais do sistema que aprenderam a valorizar: mais eficiência, mais representatividade, mais capacidade de resposta. Também esperam mais da UE: menos burocracia, mais ação.