
O Parlamento Europeu aprovou, com ampla maioria, um relatório que pede à Comissão Europeia um plano de ação urgente para modernizar e coordenar as redes elétricas do bloco. A medida, ainda que não vinculativa, ganha força após o apagão de 28 de abril, que deixou milhões de pessoas sem energia em Espanha, Portugal e parte do sul da França por várias horas — um sinal claro da fragilidade da infraestrutura elétrica do continente.
O relatório, aprovado por 418 votos a favor, 112 contra e 45 abstenções, recomenda maior integração das fontes renováveis à rede, além de simplificação regulatória e estímulo ao investimento público e privado em infraestrutura energética. O foco está na criação de um sistema mais resiliente, flexível e preparado para o aumento da participação de energias como solar e eólica, que hoje já superam os combustíveis fósseis em alguns países europeus.
Para a eurodeputada liberal austríaca Anna Stürgkh, autora do relatório, o episódio ocorrido na Península Ibérica evidenciou um risco sistêmico que exige resposta imediata. “A Comissão precisa agir com decisão para priorizar o planejamento e a coordenação da rede e do armazenamento de energia. Caso contrário, seguiremos indo de crise em crise”, alertou em seu discurso na plenária de Estrasburgo.
Além da integração das renováveis, os eurodeputados destacam a urgência de ampliar a capacidade de transporte de energia, tanto em nível nacional quanto transfronteiriço — um passo crucial para que o mercado europeu de energia funcione de maneira mais eficiente e coesa. Estima-se que a modernização da rede elétrica da União Europeia demandará investimentos de aproximadamente €584 bilhões até 2030, segundo projeções da própria Comissão Europeia.
O Parlamento também defendeu a manutenção do orçamento destinado ao Mecanismo Interligar a Europa no próximo ciclo plurianual da UE (2028-2034), instrumento considerado essencial para financiar projetos estratégicos de infraestrutura energética entre os países-membros.
A operadora espanhola Red Eléctrica, responsável pela gestão da rede no país, atribuiu o apagão a falhas de cumprimento por parte de empresas geradoras de energia, rebatendo críticas sobre suposta má gestão do sistema. Ainda assim, o episódio reforça a necessidade de uma governança mais robusta e de regras mais claras para garantir a estabilidade do fornecimento elétrico diante da transição energética em curso.
À medida que a Europa avança em direção a um modelo de energia mais limpo e interconectado, o desafio será alinhar ambição climática com segurança energética — tarefa que exige não apenas metas ousadas, mas infraestrutura à altura.