
Paris foi oficialmente reconhecida como o principal polo de tecnologia da Europa, ultrapassando Londres em um ranking internacional que avalia ecossistemas de inovação em todo o mundo. Segundo o Global Tech Ecosystem Index 2025, a capital francesa subiu para a 4ª posição no cenário global, enquanto a capital britânica recuou para o 6º lugar. A avaliação leva em conta fatores como talento, ambiente regulatório, investimento em startups e maturidade tecnológica.
A mudança de posição entre as duas maiores potências europeias em tecnologia é mais do que simbólica: reflete um redesenho no mapa da inovação no continente, impulsionado especialmente pelo avanço francês em inteligência artificial (IA) e pela crescente maturidade de seu ecossistema empreendedor.
Entre 2017 e 2024, o valor combinado das startups com sede em Paris aumentou 5,3 vezes — desempenho superior ao de Londres, que registrou um crescimento de 4,2 vezes no mesmo período. Em 2024, as empresas tecnológicas francesas captaram cerca de US$ 7,8 bilhões, com quase metade dos recursos destinados a iniciativas em IA. Destaque para empresas como Mistral AI, Poolside e Electra, que despontam como promessas globais no setor.
Esse crescimento tem raízes em políticas públicas e investimentos estratégicos. O governo francês anunciou um plano robusto para impulsionar a IA no país, com investimentos estimados em €109 bilhões. Os recursos serão aplicados em infraestrutura crítica — como data centers e centros de pesquisa — e na formação de talentos. O plano é visto como uma resposta europeia ao domínio de players chineses e norte-americanos no setor.
O fator IA
A ascensão de Paris também se explica pelo seu papel crescente na geopolítica da inteligência artificial. A cidade sediou recentemente o AI Action Summit, evento que reuniu líderes globais, CEOs de empresas como Nvidia e autoridades da União Europeia para discutir o futuro da IA no continente.
Na ocasião, foi anunciada a criação de quatro “gigafábricas de IA” com financiamento europeu — parte do programa InvestAI, que prevê um aporte de €200 bilhões para consolidar a soberania digital da Europa. Paris, com sua densidade de centros acadêmicos, empresas deep tech e instituições públicas, desponta como um dos principais destinos desse investimento.
Londres continua sendo um dos maiores centros financeiros e tecnológicos do mundo. Em 2024, startups sediadas na cidade levantaram US$ 11,3 bilhões em investimentos — volume superior ao de Paris. No entanto, o ritmo de crescimento é menor, e a cidade enfrenta desafios específicos desde o Brexit, que afetou a circulação de talentos e o acesso a programas de financiamento europeus.
Ainda assim, Londres mantém sua força em áreas como fintech, cibersegurança e healthtech. Mas algumas empresas — como a fintech Revolut — já anunciaram mudanças estratégicas, transferindo sedes regionais para Paris, onde identificam vantagens fiscais, maior estabilidade regulatória e apoio governamental à inovação.
A nova liderança de Paris não elimina o protagonismo de outras capitais tecnológicas europeias. Berlim, Amsterdã, Munique e Dublin seguem se destacando em nichos específicos, o que confirma a tendência de um ecossistema europeu cada vez mais multipolar.
A União Europeia, por sua vez, busca estruturar uma resposta coordenada. O plano de investimento em IA e infraestrutura digital, somado à regulamentação da inteligência artificial aprovada em 2024, indica uma tentativa de alinhar ambição econômica, valores democráticos e competitividade global.