Paris promete Olimpíadas mais verdes da história, mas enfrenta questionamentos e desafios

25 de julho de 2024 4 minutos
Europeanway

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 começam nesta sexta-feira (26) com a promessa de reescrever a história de grandes eventos e serem os mais verdes da história, gerando a menor pegada de carbono possível. Para atingir esse feito, o comitê organizador apostou na utilização da própria infraestrutura urbana da cidade, que privilegia o transporte público e as bicicletas, impulsionou a geração de energia renovável — especialmente solar, com painéis flutuantes instalados no rio Sena —, e até está incentivando os restaurantes a utilizarem mais legumes e verduras locais e menos carne em suas receitas.

Porém, os planos dos Jogos Olímpicos de Paris enfrentam alguns desafios. Na última semana, pesquisadores britânicos, com a colaboração de atletas e ex-atletas de 11 países, lançaram um estudo chamado “Rings of Fire”. O relatório alerta sobre os riscos de competir em condições climáticas extremas. A cidade-sede dos Jogos registrou picos de temperatura de mais de 40ºC no ano passado, e a previsão não é diferente para 2024. A preocupação com as ondas de calor levou várias delegações ao redor do mundo a informar que providenciarão ar-condicionado para suas equipes na Vila Olímpica, que, devido às preocupações ambientais, não contará com sistema de refrigeração.

O Washington Post questionou os 20 países com as maiores delegações olímpicas do torneio. Das oito que responderam ao jornal — EUA, Alemanha, Itália, Canadá, Inglaterra, Austrália, Dinamarca e Grécia —, todas informaram que irão disponibilizar ar-condicionado portátil aos atletas. Esses países representaram mais de 3.000 atletas nas Olimpíadas anteriores, em Tóquio — mais de um quarto do total de atletas da competição. Um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgado no ano passado, informa que o ar-condicionado é responsável pela emissão de cerca de 1 bilhão de toneladas de CO2 por ano, o que representa quase 3% das emissões totais de carbono no mundo — 37 bilhões de toneladas.

Carro oficial do evento gera polêmica

Um grupo de 120 cientistas, engenheiros e acadêmicos das Universidades de Cambridge, Oxford e Colorado publicou na última semana uma carta aberta aos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris pedindo para abandonarem o modelo Mirai, produzido pela Toyota, como veículo oficial dos Jogos. Os pesquisadores alegam que o carro, movido a hidrogênio, pode minar as credenciais verdes do evento. Os carros abastecidos com hidrogênio emitem zero carbono, mas 96% do hidrogênio mundial ainda é produzido com combustíveis fósseis, como gás metano. Isso faz com que a maioria desses veículos seja bem mais poluente do que os elétricos, por exemplo.

A Toyota e os organizadores dos Jogos alegam que a frota dedicada ao evento vai operar com hidrogênio derivado de água e matéria orgânica, gerado com fontes renováveis. Porém, os pesquisadores reforçam que, caso os consumidores comprem esse modelo de carro promovido pelos Jogos mais verdes da história, serão obrigados a utilizar hidrogênio produzido com combustíveis fósseis. Sendo assim, argumentam que seria muito mais adequado que o evento promovesse um modelo elétrico.

Questionamentos são antigos

Os questionamentos sobre o compromisso de sustentabilidade das Olimpíadas 2024 são antigos. No ano passado, a ONG europeia Carbon Market Watch alegou que a organização dos Jogos não tinha planos robustos para compensação de 70% de suas emissões de carbono. Segundo a ONG, os organizadores dos Jogos de Paris estabeleceram uma meta para emissão de carbono de 1,5 milhão de toneladas de CO2, com a intenção de reduzir pela metade as emissões das Olimpíadas de Londres 2012 (3,3 milhões de toneladas de CO2) e do Rio 2016 (3,6 milhões de toneladas de CO2). Embora a meta de descarbonização pareça ambiciosa, a organização não governamental avalia que é difícil analisá-la, pois não foram divulgadas metodologias ou detalhes sobre os cálculos e as metas de emissão, não permitindo verificar se a base de dados utilizada para esse balanço é a mesma das edições anteriores.

A ONG reconhece que foram realizados esforços para diminuir o impacto ambiental do evento; porém, acredita que, apesar de as Olimpíadas de Paris terem prometido uma transformação verde nesse tipo de evento para criar parâmetros para as próximas edições, foram feitas “apenas melhorias acessórias”.

Participam da competição deste ano 206 países e 10.714 atletas de 48 modalidades esportivas.

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