O crescimento dos lucros das empresas é responsável por quase metade do avanço da inflação na Europa nos últimos dois anos. A razão: as empresas reajustaram seus preços acima dos níveis de aumento dos custos da energia importada que foi gerado pela invasão da Ucrânia e consequente boicote à Rússia.
Ganharam as empresas, perderam os trabalhadores. Estes tiveram seu poder de compra diminuído (5% apenas em 2022) e agora pressionam por salários mais altos, num cenário que merece atenção.
Essa é a visão de Niels-Jakob Hansen, Frederik Toscani e Jing Zhou, três economistas do Fundo Monetário Internacional com atuação em diferentes países da Europa em artigo conjunto que analisa as tendências econômicas do continente.
A inflação na zona do euro atingiu um pico de 10,6% em outubro de 2022, recuando para 6,1% em maio, mas o núcleo da inflação mostrou ser persistente analisam os economistas. Dessa forma continua a pressão sobre o Banco Central Europeu para que mantenha ou mesmo aumente as taxas de juros, apesar de tecnicamente a região ter entrado em recessão no início de 2023.
O gráfico abaixo mostra como a inflação mais alta é reflexo direto dos lucros das empresas (numa proporção de 45%, em vermelho) e preços de importação mais altos (40%, em azul escuro). Os custos trabalhistas, marcados em azul claro, mostram que as empresas da Europa foram até agora mais protegidas do que os trabalhadores do choque inflacionário.
Os lucros das empresas ajustados pela inflação ficaram cerca de 1% acima do nível pré-pandemia no primeiro trimestre de 2023. Enquanto isso, a remuneração dos funcionários (também ajustada pela inflação) ficou cerca de 2% abaixo daquele cenário.
Episódios anteriores de alta nos preços da energia sugerem que a contribuição dos custos trabalhistas para a formação da inflação deve crescer daqui para frente, um movimento que na verdade já vem ganhando velocidade, analisam os economistas Niels-Jakob Hansen, Frederik Toscani e Jing Zhou.
No sentido contrário, acrescentam eles, vem diminuindo a participação dos custos de importação na alta geral de preços.
Projeções do Fundo Monetário Internacional (ver gráfico abaixo) apontam que a zona do Euro deve apresentar o menor crescimento entre todas as outras regiões do planeta em 2023. Para 2024, as projeções indicam uma pequena mudança do quadro: a zona do Euro deve crescer apenas mais do que os Estados Unidos.