Para acabar com as fake news: vacinas não causam autismo, atesta estudo dinamarquês

Levantamento com mais de 600 mil crianças é o mais amplo feito sobre o tema; mito criado há duas décadas já foi desmentido por seu autor, mas segue influente

07 de março de 2019 5 minutos
Europeanway

Doenças que foram erradicadas graças às vacinas agora ressurgiram. O Brasil, que recebeu em 2016 um certificado da ONU pela eliminação do sarampo, teve um grande surto da doença, que atingiu 11 estados e 10.302 pessoas no ano passado por causa da baixa cobertura vacinal. Entre as causas do aumento está a o chamado movimento antivacinas, cujos adeptos as apontam como causadoras de doenças e transtornos como o autismo (TEA). Pois eis a resposta, dada por cientistas dinamarqueses: essa crença é falsa.

A conclusão apareceu no mais amplo estudo já feito sobre o tema. A pesquisa foi feita na Dinamarca com mais de 600 mil crianças, e seus resultados, publicados na última segunda-feira no Annals of Internal Medicine, como registra o jornal El País.

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A tese de que a vacina conjunta contra a rubéola, caxumba e sarampo, conhecida como tríplice viral (MMR, na sigla em Inglês), provoca o autismo começou há duas décadas. Ela surgiu em 1998 com a publicação de um artigo de Andrew Wakefield no The Lancet, no qual o autor defendia o vínculo hipotético entre a vacina MMR e o autismo.

Esse estudo, que causou pânico e afetou as taxas de vacinação em todo mundo, foi refutado em muitas ocasiões. Além disso, o próprio pesquisador – que teve de se retratar na mesma revista por erros metodológicos; alguns especialistas definem esses equívocos como premeditados – chegou a perder sua licença de trabalho. Ainda assim, o boato se mantém no mundo todo, alimentado principalmente pelas redes sociais.

"Nas redes sociais, as pessoas seguem quem querem seguir ou quem se encaixa no que pensam ou desejam", disse ao El País Celso Arango, chefe de psiquiatria infantil e adolescente do hospital Gregorio Marañón. "Os antivacinas não vão desaparecer. São pessoas que acreditam no conceito natural como modo de vida. Mas há algo que precisam saber: toda decisão é respeitável desde que não prejudique os outros. No momento em que essas pessoas não são vacinadas e reaparecem doenças até então erradicadas, o que afeta a população, sua decisão provoca um problema de saúde pública."

"As pessoas antivacinas baseiam as suas conclusões em um artigo que foi desmascarado em várias ocasiões desde a sua publicação e que não tem nenhuma base científica", continua. "Além disso, o surgimento da vacina coincide com um diagnóstico mais claro do autismo. Mas o autismo não surge de repente, não é algo que simplesmente acontece. A pessoa nasce com ele. E é diagnosticado mais cedo ou mais tarde, dependendo dos sintomas", explica o especialista.

Mais de uma década de pesquisas
Para descobrir a verdade, os especialistas do estudo dinamarquês avaliaram se a vacina aumentava o risco de desenvolver autismo. Eles estudaram as características das crianças e o tempo decorrido desde a vacinação, um total de 657.461 nascidos na Dinamarca de 1999 a 2010, e as acompanharam desde o primeiro ano de vida até agosto de 2013.

Em todos os casos os pesquisadores avaliaram se as crianças foram vacinadas, se tinham sido diagnosticadas com autismo, se havia algum membro da família com esse transtorno neurobiológico ou algum outro fator de risco para o autismo. No total, foram avaliadas mais de 5 milhões de pessoas, das quais apenas 6.517 crianças foram diagnosticadas com a incidência de autismo, dizem os autores – ou seja, 129,7 para cada 100.000 habitantes. Não se observou nenhuma diferença entre as crianças vacinadas e as que não eram e não se verificou nenhum risco adicional para padecer de TEA entre os vacinados.

“Nossa conclusão é que a vacina tríplice viral não aumenta o risco de sofrer de autismo", escrevem os autores na revista. Além disso, "não há aumento de seu diagnóstico entre as crianças mais suscetíveis de padecer dele e não está relacionado com casos de autismo que aparecem depois da vacinação". Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 160 crianças tem TEA no mundo. Os sintomas geralmente começam na infância e persistem até a adolescência e a idade adulta. Outras estimativas dizem que ele pode afetar uma em cada 68 crianças em idade escolar.

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