A crescente preocupação com os efeitos do uso excessivo de tecnologia entre jovens tem impulsionado uma onda de medidas restritivas em relação aos celulares em sala de aula. De acordo com o Relatório Global de Monitoramento da Educação da Unesco, ao menos um quarto dos países no mundo já proibiu o uso de celulares em escolas, citando prejuízos ao desempenho acadêmico e dificuldades na gestão em sala de aula. No centro dessa tendência, países europeus estão assumindo uma postura de vanguarda na implementação de políticas rigorosas para banir o uso desses dispositivos nos ambientes escolares.
A França é frequentemente citada como uma das pioneiras na proibição. Desde 2018, uma lei nacional impõe restrições rígidas, impedindo os estudantes de usarem os aparelhos não só em sala de aula, mas também durante os recreios. A exceção à regra é aplicada apenas a alunos com necessidades especiais, que dependem da tecnologia como ferramenta de suporte. A decisão foi amplamente justificada pela necessidade de reduzir as distrações e melhorar o ambiente de aprendizado, e tornou-se um exemplo a ser seguido por outros países.
Estudos realizados a partir de dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, da OCDE) reforçam essa visão, apontando uma correlação negativa entre o uso intensivo de tecnologia e o desempenho acadêmico. Para muitos especialistas, o simples fato de os alunos terem seus celulares próximos já é o suficiente para prejudicar a concentração e aumentar a dispersão durante as aulas.
Outros países europeus têm seguido o exemplo francês, implementando suas próprias proibições ao uso de celulares em escolas. A Grécia, por exemplo, adotou a medida no início do semestre letivo, exigindo que os alunos mantenham seus dispositivos dentro das mochilas durante todo o período escolar. Medidas semelhantes também foram adotadas na Dinamarca, onde a prática de proibir o uso de celulares ganhou força em resposta a demandas crescentes por um ambiente escolar mais focado e produtivo.
Países como Espanha, Finlândia, Holanda e Suíça também estão entre os que optaram por restringir o uso de celulares nas salas de aula. Em todos esses casos, a motivação é clara: o impacto negativo das telas sobre a aprendizagem e a capacidade de interação dos alunos. Na Espanha, a discussão em torno das restrições ganhou força nos últimos anos, com escolas reportando melhorias significativas no engajamento e na disciplina dos estudantes após a implementação de políticas restritivas.
Embora o movimento de restrição aos celulares tenha ganhado força, há uma discussão paralela sobre o uso das tecnologias digitais no ambiente escolar. Em países como a Finlândia, reconhecida por seu sistema educacional inovador, a introdução de ferramentas digitais está sendo cuidadosamente balanceada com as necessidades pedagógicas tradicionais. A busca por um equilíbrio entre inovação tecnológica e as práticas tradicionais de ensino se tornou um dos maiores desafios das políticas educacionais contemporâneas.
O Relatório Global de Monitoramento da Educação da Unesco, publicado em 2023, adverte que não há evidências científicas suficientes para sustentar que a introdução massiva de tecnologias digitais nas salas de aula traga benefícios claros ao aprendizado. Em vez disso, a entidade alerta para o risco de recursos serem mal direcionados, retirando investimentos de áreas cruciais como a formação de professores e a aquisição de materiais didáticos.
Brasil segue o exemplo europeu
A questão também começa a ganhar espaço no Brasil. O governo Lula está elaborando um pacote de medidas que inclui a restrição do uso de celulares em escolas, inspirado nas políticas adotadas por países europeus. O Rio de Janeiro já implementou uma lei que proíbe o uso de celulares não só dentro das salas de aula, mas também em outras áreas da escola, como os recreios. A medida foi aprovada após uma consulta pública, na qual 83% dos entrevistados se mostraram favoráveis à proibição.
Ainda que outros estados brasileiros tenham adotado regulações semelhantes — como Roraima, Distrito Federal e São Paulo —, o cenário é mais fragmentado, e o cumprimento dessas regras varia consideravelmente. Enquanto alguns estados incentivam o uso pedagógico da tecnologia, há uma crescente pressão para que o Brasil adote uma política nacional mais restritiva, semelhante àquelas vistas na Europa.