
A Organização das Nações Unidas intensificou a cobrança para que governos apresentem, ainda em setembro, metas de corte de emissões mais ambiciosas para 2035. A demanda ocorre a poucas semanas da COP30, que será realizada de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém (PA), capital localizada no coração da Amazônia.
As NDCs, contribuições nacionalmente determinadas previstas no Acordo de Paris, precisam detalhar a trajetória de redução de emissões até 2035. Embora muitos países ainda não tenham apresentado planos formais, parte dos atores já sinalizou movimentos provisórios. Em setembro, a União Europeia aprovou e enviou à UNFCCC uma declaração de intenções para um alvo indicativo de redução entre 66,25% e 72,5% em 2035 em relação a 1990, como passo anterior à sua NDC definitiva. O secretário-geral da ONU, António Guterres, voltou a pedir metas “mais rápidas e profundas” em 2035 durante a Assembleia Geral em Nova York, em linha com o esforço para ganhar tração antes de Belém.
Principais pressões
As atenções se concentram nas grandes economias. A China, maior emissora em termos absolutos, indicou que pretende apresentar sua NDC de 2035 antes da COP30, embora análises independentes mostrem que o país segue fora de curso para cumprir suas metas domésticas de intensidade de emissões até 2025. Ainda assim, há sinais mistos: no primeiro semestre deste ano, as emissões de CO₂ caíram cerca de 1% em relação a 2024, e a capacidade instalada de energia solar e eólica já ultrapassou a de fontes térmicas no primeiro trimestre, demonstrando a velocidade da transição energética. O calendário, porém, segue incerto, já que Pequim fala em atualizar suas metas apenas no outono do Hemisfério Norte de 2025.
Na UE, o debate é igualmente complexo. França e Polônia pressionam pelo adiamento da meta de 2040, e não há consenso definitivo sobre o compromisso de 2035. Para não chegar de mãos vazias à ONU, o bloco optou por enviar uma declaração de intenções, com uma faixa indicativa de redução entre 66,25% e 72,5% até 2035 em relação a 1990, construída como ponte entre os objetivos de 2030 e 2050. Mesmo assim, a indefinição expõe as tensões políticas internas.
O panorama global reforça a preocupação da ONU: até abril de 2025, apenas 19 países haviam submetido oficialmente suas NDCs atualizadas. A leitura é de que, embora haja sinais de movimento, o ritmo ainda está aquém do necessário para alinhar os compromissos ao Acordo de Paris e manter o aquecimento global em níveis considerados seguros.
Termômetro do aquecimento
A ONU deve avaliar se os compromissos apresentados são compatíveis com a limitação do aquecimento global. Os dados recentes reforçam a urgência: 2024 foi confirmado como o ano mais quente já registrado, e 2015 a 2024 compõem a década mais quente da série histórica【web†source】. Para reforçar o contexto, o Relatório da Brecha de Produção de 2025 indica que os governos planejam produzir em 2030 cerca de 120% a mais de combustíveis fósseis do que seria compatível com o limite de 1,5 °C, e 77% acima do necessário para 2 °C.
Amazônia no centro
A COP30 ganhou peso simbólico por ocorrer no coração da Amazônia. O encontro deve se concentrar em três frentes: elevação da ambição das NDCs, financiamento climático e proteção de florestas tropicais. O Brasil busca protagonismo com o compromisso de desmatamento zero até 2030 e a intenção de lançar o Tropical Forest Forever Facility (TFFF), instrumento financeiro que mira mobilizar US$ 125 bilhões até 2030 para conservação em países tropicais.
Ao mesmo tempo, desafios domésticos podem afetar a narrativa. Em Belém, o projeto Avenida Liberdade, uma rodovia de 13,2 km em área de floresta na região metropolitana da capital paraense, tornou-se alvo de críticas ambientais. O governo federal afirma que a obra não integra os 33 projetos oficiais da COP30 e não recebe verba federal, tratando-se de iniciativa estadual anterior à escolha da cidade.
Há também pressão logística. Diante da escassez de leitos e da alta de preços na capital paraense, a ONU decidiu elevar a diária de subsistência para delegações de países em desenvolvimento e tem promovido ajustes para garantir a participação de todos. Na semana passada, uma greve na construção civil atrasou obras do complexo de hospedagem de líderes, adicionando incerteza ao cronograma.