O verão que custou caro ao continente europeu

15 de setembro de 2025 4 minutos
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O verão de 2025 entrou para a história da Europa não apenas pelos recordes climáticos, mas pelo peso econômico das catástrofes associadas ao aquecimento global. Um estudo conduzido pela Universidade de Mannheim estima que os eventos extremos ocorridos entre junho e agosto impuseram perdas de € 43 bilhões à economia do continente, cifra que pode chegar a € 126 bilhões até 2029 quando considerados os impactos prolongados sobre produtividade, saúde pública, turismo e fluxos de investimento.

Esse balanço sombrio coincide com um momento decisivo em Bruxelas: a revisão da Lei do Clima da União Europeia, que define a trajetória do bloco rumo à neutralidade em 2050. O debate sobre a meta intermédia de 2040, inicialmente previsto para esta semana no Conselho de Ministros do Ambiente, foi adiado. Estados-membros alegaram não estar prontos para aprovar a proposta da Comissão Europeia, que prevê uma redução de 90% das emissões de CO₂ até 2040 em relação aos níveis de 1990. A decisão será transferida para a cúpula de chefes de Estado em outubro.

O estudo da Universidade de Mannheim identificou cerca de cem ondas de calor, quase duzentas secas e mais de cinquenta inundações em diferentes regiões do continente, além de incêndios florestais e tempestades de granizo que atingiram áreas urbanas e agrícolas.

Mais do que danos diretos como estradas destruídas, colheitas arruinadas, redes de transporte interrompidas, a análise evidencia o efeito cumulativo desses choques: dias de trabalho perdidos, pressão sobre sistemas de saúde, retração em investimentos e impactos demográficos que tendem a redesenhar padrões de mobilidade interna.

As economias mediterrâneas aparecem entre as mais expostas. Espanha, França e Itália contabilizam perdas superiores a € 10 bilhões apenas em 2025, com projeções que ultrapassam € 30 bilhões em horizonte de médio prazo. No norte e centro da Europa, o quadro é menos dramático em termos de calor e seca, mas a frequência de inundações vem crescendo, elevando a fatura da adaptação. A geografia climática do continente se reconfigura de forma desigual, e com ela também as tensões distributivas.

O custo das catástrofes climáticas não se limita à destruição visível. A seca que encarece alimentos pressiona a inflação de forma persistente, complicando a atuação do Banco Central Europeu. O calor extremo que reduz a produtividade industrial impõe limites à competitividade das cadeias de valor. O turismo, um dos motores do sul europeu, sofre com temporadas mais curtas e riscos crescentes de incêndios e instabilidade hídrica.

Projeções recentes sugerem que choques de calor podem subtrair até 0,5 ponto percentual do PIB europeu em 2025. Essa erosão silenciosa do crescimento se soma a uma inflação estruturalmente pressionada e a condições financeiras mais restritivas. O resultado é um dilema para governos e autoridades monetárias: equilibrar políticas de combate à inflação com a necessidade de financiar investimentos de adaptação.

A assimetria dos impactos climáticos tem potencial de acirrar tensões dentro da União Europeia. Países do sul e leste, mais expostos e com menor capacidade fiscal de resposta, tendem a demandar solidariedade supranacional. O desenho de mecanismos de compensação ou fundos de resiliência será inevitável para evitar a fragmentação política.

Há ainda o custo social: sistemas de saúde sobrecarregados, mortes por calor extremo, desigualdades ampliadas entre populações urbanas com acesso a infraestrutura adaptada e comunidades rurais expostas. A crise climática deixa de ser uma abstração ambiental e se impõe como determinante da coesão social europeia.

No coração da disputa sobre a meta de 2040 está a possibilidade de recorrer a créditos de carbono internacionais como instrumento parcial para atingir os cortes propostos. Defensores do mecanismo argumentam que ele ampliaria a flexibilidade e reduziria custos de cumprimento.

O peso da COP30

A hesitação europeia não ocorre num vácuo. O desfecho da revisão da Lei do Clima terá impacto direto sobre a COP30, que acontece ainda este ano em Belém do Pará, no Brasil. Os planos nacionais de ação climática, que compõem a contribuição europeia ao Acordo de Paris, precisam ser atualizados antes da conferência.

Uma decisão robusta em Bruxelas reforçaria a posição da Europa como líder da diplomacia climática global. Um recuo, ao contrário, poderia minar sua credibilidade internacional justamente no momento em que o continente enfrenta os efeitos mais tangíveis da crise climática.

 

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