As eleições europeias de 2024 marcaram uma mudança significativa no equilíbrio político da UE, com um fortalecimento das forças conservadoras e de direita. Esse novo cenário tem implicações diretas em relação à China, especialmente em questões como política industrial, defesa coletiva e o Pacto Ecológico Europeu.
O Partido Popular Europeu (EPP), liderado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, emergiu como o grande vencedor das eleições, conquistando uma parcela significativa das cadeiras no Parlamento Europeu. Este partido, que agora possui uma considerável influência na definição de agendas e na formulação de políticas, colocou a China no centro de suas preocupações, refletindo uma crescente percepção de competição sistêmica entre a Europa e o gigante asiático. No manifesto do EPP, o país é mencionado mais vezes do que a Rússia, destacando a importância que o país tem ganhado no cenário do continente.
A estratégia europeia, liderada por von der Leyen, busca reduzir a dependência de setores estratégicos em relação a China, caso de semicondutores, biotecnologia e tecnologias verdes, sem, no entanto, romper completamente os laços econômicos bilaterais. A abordagem visa proteger a economia europeia, ao mesmo tempo em que mantém uma relação comercial cautelosa com Pequim.
Entretanto, a nomeação de Kaja Kallas como Alta Representante para a Política Externa e de Segurança Comum da UE pode indicar uma postura mais assertiva em relação à China. Kallas, ex-primeira-ministra da Estônia, é conhecida por sua firmeza em relação à Rússia, e alguns analistas acreditam que essa posição pode se estender à China, especialmente em um contexto de um crescente aprofundamento das relações entre os governos de Xi Jinping e Vladimir Putin. Sua nomeação sugere que a política externa da UE pode se tornar mais rígida, alinhando-se a uma visão mais competitiva e menos conciliadora em relação à China.
Em paralelo a essas mudanças internas, a recente visita do presidente Xi Jinping à Europa destacou a relevância das relações bilaterais. Durante encontros com líderes europeus, como o presidente francês Emmanuel Macron, Xi Jinping discutiu temas centrais, como o projeto da Nova Rota da Seda e a cooperação econômica. O líder chinês enfatizou os benefícios mútuos que essa iniciativa pode trazer, numa tentativa de amenizar preocupações sobre a crescente influência econômica e institucional de Pequim em uma Europa politicamente dividida.
Um dos pontos altos das discussões foi o apoio conjunto a uma espécie de trégua nas tensões durante os Jogos Olímpicos de Paris em 2024. A visita de Xi Jinping também reforçou a necessidade de equilíbrio nas relações UE-China, em um momento em que a Europa enfrenta desafios econômicos, sociais e geopolíticos significativos, com a crescente influência de Pequim no cenário global.
A imposição recente de tarifas sobre veículos elétricos chineses pela Comissão Europeia, vista como uma tentativa de proteger a indústria europeia, pode ser um prenúncio de tensões mais amplas entre os dois lados. Os chineses já responderam com uma investigação anti-dumping sobre as importações de carne suína europeia, sugerindo que as relações comerciais entre os dois blocos podem ganhar novo contorno.
Em resumo, a nova composição política do Parlamento Europeu, combinada com uma possível postura mais assertiva na política externa, pode levar a uma reavaliação das relações com a China. A UE está em uma encruzilhada, e decisões a serem tomadas nos próximos meses poderão definir o futuro da sua estratégia em relação ao país asiático. O continente enfrenta o desafio de recalibrar seu setor industrial e proteger setores considerados estratégicos, ao mesmo tempo em que precisa manter relações comerciais e diplomáticas estáveis com a China. A necessidade de garantir esse equilíbrio ocorre em cenário global cada vez mais complexo e multipolar, onde cada decisão reproduz a cautela de movimentos das peças em um tabuleiro de xadrez.