A França entra em uma nova etapa política com a formação de um governo liderado por François Bayrou, líder do Movimento Democrático (MoDem) e aliado de longa data do presidente Emmanuel Macron. O anúncio, realizado após a renúncia de Élisabeth Borne ao cargo de primeira-ministra, marca uma reestruturação significativa na liderança francesa em meio a desafios internos e externos.
Bayrou, figura centrista conhecida por seu pragmatismo, lidera uma equipe que inclui dois ex-primeiros-ministros, Edouard Philippe e Jean-Pierre Raffarin, em posições estratégicas. Essa composição reflete a tentativa de Macron de reforçar a coesão política, buscando equilíbrio em um cenário de descontentamento popular e tensões parlamentares.
A queda de Borne, amplamente atribuída à dificuldade de navegar pelas reformas controversas, como a da Previdência, expôs fragilidades na coalizão que sustenta o governo Macron. Bayrou assume em um momento em que a confiança no governo enfrenta desafios significativos, com a fragmentação política dificultando avanços legislativos.
A inclusão de Edouard Philippe, primeiro-ministro durante os primeiros anos de Macron, é vista como um gesto para reconectar a base que se desiludiu com a administração atual. Jean-Pierre Raffarin, por sua vez, traz sua experiência e trânsito entre as forças moderadas e conservadoras, indicando uma estratégia para ampliar o diálogo político.
O novo governo herda uma série de desafios econômicos e sociais. A França enfrenta uma desaceleração econômica, com a inflação afetando o poder de compra dos cidadãos e gerando insatisfação generalizada. A necessidade de revitalizar o mercado de trabalho e impulsionar a transição energética são prioridades destacadas por Bayrou em seus discursos iniciais.
O primeiro-ministro prometeu adotar uma abordagem “próxima dos franceses”, sinalizando uma maior abertura ao diálogo com sindicatos e movimentos sociais, que ganharam força durante os protestos contra a reforma da Previdência.
No cenário internacional, o governo de Bayrou terá que lidar com as consequências da guerra na Ucrânia, que segue pressionando os mercados energéticos e a segurança na Europa. Além disso, a França precisa reafirmar sua liderança no contexto da União Europeia, especialmente diante das disputas comerciais e tensões com os Estados Unidos e a China.
A formação do governo foi recebida com cautela por analistas políticos. Embora Bayrou seja respeitado por sua experiência e capacidade de mediação, sua liderança será testada pela habilidade de consolidar uma coalizão fragmentada e responder às demandas urgentes da população.
A oposição, liderada por figuras como Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon, já indicou que não facilitará o caminho para o novo governo. Ambos criticaram a continuidade de políticas consideradas impopulares, afirmando que o gabinete de Bayrou representa apenas “uma extensão do governo Macron”.