A partir do próximo ano letivo, as escolas norueguesas seguirão um novo currículo – e os critérios gerais da proposta podem ajudar a nortear iniciativas semelhantes em outros países, Brasil entre eles. Não há nada de "combate ao comunismo" ou qualquer menção a inimigos imaginários. Em vez disso, o plano está centrado no objetivo de estimular o pensamento crítico entre os estudantes.
As mudanças, que passam a valer no outono (setembro a dezembro) de 2020, foram anunciadas nesta segunda-feira (18/11). "Nós precisamos preparar as crianças para a vida profissional, mas também para a própria vida", disse o ministro da Educação e Integração, Jan Tore Sanner, ao apresentar as novidades.
LEIA TAMBÉM:
– Bodo, na Noruega, é eleita a capital cultural da Europa para 2024
– Três universidades escandinavas estão entre as 100 melhores do mundo
– Na Finlândia, exemplar em educação, os professores querem turmas menores
Não haverá alteração na carga horária dos alunos, mas sim no aprofundamento dos conteúdos de algumas disciplinas. As cinco áreas fundamentais de aprendizagem também seguirão as mesmas: leitura, escrita, matemática e habilidades verbais e digitais. O que muda é a clareza sobre a correlação entre essas disciplinas e sobre seu uso prático (o que pode ajudar a sanar dúvidas muito comuns entre os estudantes, como "por que eu preciso aprender isso?").
O novo currículo acentua mudanças que já apareciam – mas com menos ênfase – no programa anterior, de 2006. "A sociedade está mudando com as novas tecnologias, novos conhecimentos e novos desafios. Isso também impõe exigências à escola do futuro. É por isso que as habilidades digitais, entre outras coisas, ganharam um lugar mais claro nos novos currículos", afirma o ministro.
Isso significa, também, melhorar o julgamento sobre conteúdos digitais, com análise de fontes boas e seguras de informação. O pensamento crítico e a escolha criteriosa de fontes de informação são uma parte central de várias disciplinas, enfatiza o Ministério.
Haverá três tópicos interdisciplinares para interligar os assuntos de cada disciplina: democracia e cidadania, desenvolvimento sustentável e saúde pública e gestão da vida. "Muitas pessoas queriam que os temas interdisciplinares recebessem mais espaço na escola. Eu ouvi a demanda, e os tópicos foram abordados em várias disciplinas após as consultas públicas. O desenvolvimento sustentável, por exemplo, foi incorporado à ciência norueguesa, enquanto democracia e cidadania foram incluídas em matemática", contou Sanner.
Houve queixas de educadores e especialistas em pelo menos um ponto: o ensino do idioma. Não haverá nota mínima para avaliar o desempenho dos alunos nas aulas de Nynorsk, um dos dois padrões escritos da língua norueguesa. Isso ocorre porque apenas uma nota será dada para norueguês escrito e uma para norueguês falado, em vez de haver notas para cada uma das duas formas de norueguês – Nynorsk e Bokmål -, como ocorre hoje.
Embora seja o menos usado dos dois, o Nynorsk tem status igual ao de Bokmål desde 1885. Cerca de 12% dos noruegueses falam Nynorsk. Em 2013, 26% dos 114 municípios do país declararam o Nynorsk como seu idioma oficial. "O governo está rebaixando o status do Nynorsk", disse à NRK a presidente Sociedade da Línguas Norueguesa, Magne Aasbrenn.