Nos últimos 20 anos, os trabalhadores suecos têm desfrutado de um privilégio incomum: o direito de tirar seis meses de folga e iniciar seu próprio negócio. Batizada, literalmente, de "Direito de Sair e Criar um Negócio", a lei faz parte de uma série mais ampla de direitos concedidos aos trabalhadores para fazerem coisas fora de seus empregos, como estudar ou cuidar de um membro da família.
Segundo mostra a BBC, que cita dados da Statistiska Centralbyrån, a agência de estatísticas do país, em 2017, 175 mil trabalhadores com idades entre 25 e 54 anos solicitaram algum tipo de licença (incluindo a de criação de um novo negócio), ou 12 mil a mais que os de dez anos antes. O registro de novas empresas, por sua vez, subiu de 27,9 mil para 48,5 mil no mesmo período.
A licença para criar um novo negócio é um dos instrumentos que ajudam a construir a reputação da Suécia como um dos países mais inovadores do mundo. Esse direito também integra o cenário que fez de Estocolmo a capital europeia das startups – a cidade só fica atrás do Vale do Silício, na Califórnia, em número de unicórnios (empresas de tecnologia avaliadas em pelo US$ 1 bilhão) per capita.
“Até onde sei, a Suécia é o único país que oferece um direito legalmente consagrado de tirar uma licença para o empreendedorismo”, disse à BBC Claire Ingram Bogusz, que pesquisa empreendedorismo e sistemas de informação na Stockholm School of Economics.
Um dos casos de sucesso entre as startups suecas é o serviço de streaming de música, podcast e vídeo Spotify. Criada em 2006, a empresa estreou na Bolsa de Nova York no ano passado e tem valor de mercado de US$ 24,5 bilhões. Outros incluem o Skype, comprado pela Microsoft em 2011 por US$ 8,5 bilhões, e a Mojang, a empresa por trás do jogo eletrônico Minecraft, também adquirida pela Microsoft, em 2014, por US$ 2,5 bilhões.
Qualquer pessoa que esteja no emprego de modo integral há pelo menos seis meses tem direito a candidatar-se ao período sabático não-remunerado, ou "tjänstledighet", como é chamado na Suécia. Os empregadores só podem vetar o pedido se o funcionário for vital para as operações da empresa. Além disso, sua ideia de um novo negócio não pode competir com o de seu empregador atual nem causar qualquer inconveniente significativo, segundo registra o blog do Fórum Econômico Mundial.
Há uma tendência crescente em muitos países para que as pessoas desenvolvam um empreendimento fora do horário normal de trabalho e dediquem seu tempo livre para tentar esse novo caminho. É um raciocínio parecido com o que define a "gig economy", também conhecida como "economia compartilhada" ou "economia freelancer": tempo livre, capacidade ociosa e os recursos sobressalentes são todos ativos esperando para serem monetizados.
Entre os suecos, o estímulo à monetização (e à inovação) é também imposto por lei.