Há muitos anos a Finlândia debate a necessidade de reforma de seu sistema social e de saúde. Em 2015, o primeiro-ministro Juha Sipilä venceu as eleições parlamentares prometendo "consertar" tudo que não funcionava na Finlândia, que naquele momento estava em recessão. O ponto central seriam as reformas, que não chegaram a ser votadas por falta de consenso. Não haverá mais tempo de votá-las nesta legislatura, já que a próxima eleição será no mês que vem. O que fez o governo de Sipilä? Anunciou sua renúncia.
"Meu governo trabalha de acordo com o princípio 'resultados ou demissão'. Sou um homem de princípios, e na política é necessário assumir responsabilidades. Assumo a minha parcela de responsabilidade", afirmou Sipilä. O pedido de demissão foi feito na última sexta-feira.
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O programa de reformas, fonte de discórdia em sucessivos governos há uma década, voltou a dividir a coalizão de governo, integrada pelo Centro (partido do premier), o Partido da Coalizão Nacional (direita) e o partido Reforma Azul (eurocético). Entre as reformas propostas estavam a centralização dos serviços com novas entidades regionais de saúde e a maior utilização de fornecedores privados, dois pontos muito polêmicos.
Os integrantes da coalizão não conseguiram chegar a um acordo em alguns pontos, como a abertura do sistema para dar mais liberdade de escolha aos pacientes. Veronica Rehn-Kivi, do Partido Popular Sueco da Finlândia (liberais), disse que a decisão é uma "vitória" para o estado de bem-estar social.
Juha Sipilä, de 57 anos, engenheiro de formação, ficou milionário atuando no setor de tecnologia antes de entrar para a política e vencer as eleições legislativas de 2015. A pedido do presidente Sauli Niinistö, ele permanecerá à frente dos temas protocolares até a formação do novo governo.
Em sua campanha, Sipilä dizia encarar as reformas sociais e do sistema de saúde como suas prioridades por considerá-las necessárias para reduzir os custos dos tratamentos de uma população cada vez mais idosa. O índice de pessoas acima do 65 anos no país, que tem 5,4 milhões de habitantes, deve chegar a 26% até 2030.
O programa de austeridade de Sipilä e uma regulamentação mais rígida para os benefícios sociais adotada durante seu mandato foram muito impopulares no país. A Finlândia tem uma das redes de bem-estar social mais generosas do mundo, mas também um custo de vida elevado.
(Foto: Roni Rekomaa / Lehtikuva)