Montar o governo será o terceiro tempo das eleições francesas

08 de julho de 2024 4 minutos
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Paris, que tem vivido um clima de expectativa crescente devido a contagem regressiva para o início dos Jogos Olímpicos, acaba de ganhar um desafio adicional, agora no campo político: organizar um novo governo para o país, cujos eleitores viraram o jogo na segunda etapa das eleições para a Assembleia Nacional de forma surpreendente.

O primeiro turno havia apontado o partido Reunião Nacional (RN) de extrema-direita como vencedor, mas esse resultado preencheu apenas um número limitado de cadeiras. No segundo turno, realizado do domingo (7), estava em jogo a maioria das posições do legislativo. O que se viu foi o maior comparecimento às urnas desde 1981 (66,7% dos eleitores; o voto não é obrigatório) como também o sucesso da estratégia de partidos de esquerda reunidos em torno da Nova Frente Popular (NFP) e da leganda Juntos! (direita e centro-direita) do presidente Emmanuel Macron. As duas forças políticas decidiram ao longo da última semana concentrar votos em determinados candidatos e assim impedir que a extrema-direita de Marine Le Pen obtivesse a maioria absoluta dos assentos na Assembleia Nacional.

Em resultado surpreendente a coalizão NFP emergiu como a maior força na Assembleia Nacional, com 182 dos 577 deputados, superando a coligação Juntos! do presidente (chefe de Estado) Emmanuel Macron, que obteve 168 assentos. E acima também do partido de direita radical Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen, que alcançou 143 assentos e assim ficou longe de confirmar um possível favoritismo e a possibilidade de indicar o novo primeiro-ministro (chefe de governo) para comandar o país.

Apesar da vitória, a esquerda também não conseguiu a maioria absoluta necessária para governar sozinha, deixando a França diante de um impasse político. A maioria absoluta na Assembleia Nacional requer 289 assentos. Esse cenário força a NFP a buscar alianças para garantir a governabilidade do país.

O desafio francês daqui para a frente é quase tão grande quanto bater um recorde olímpico. Afinal, combinar as visões de centro e de esquerda para garantir governabilidade não será fácil, ainda mais que estão sobre a mesa temas sensíveis como a reforma da Previdência, repudiada pelos partidos de esquerda, mas que Emmanuel Macron conseguiu aprovar com dificuldade em 2022. A reforma entrou em vigor de forma gradual, no início de 2023, e depois de diferentes etapas, estará concluída em 2030.

Jean-Luc Mélenchon, uma das figuras principais da esquerda francesa, afirmou que Macron deve reconhecer a derrota e buscar uma relação com a NFP para formar um governo funcional. Essa afirmação aponta para um período de intensas negociações à frente, enquanto a França se prepara para um Parlamento potencialmente paralisado e um cenário político incerto.

O primeiro-ministro Gabriel Attal, membro do Juntos!, anunciou sua renúncia na manhã de segunda-feira (8), após o resultado das eleições. No entanto, o presidente Macron solicitou que Attal permaneça no cargo para garantir a estabilidade do país até que uma solução definitiva seja encontrada.

Essas eleições foram descritas como as mais polarizadas da história recente da França. Para tentar conter o avanço da extrema direita de Marien Le Pen, a coligação de Macron e a esquerda aceitaram retirar mais de 200 candidaturas próprias, para concentrar os votos em nomes de ambos os lados que apresentavam mais chances de vitória.

Esse esforço conjunto resultou em uma Assembleia Nacional diversificada, mas sem uma maioria clara, refletindo a complexidade e a divisão da política francesa contemporânea.

Fonte: G1

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