Mobilidade Global: Europeus seguem à frente dos americanos, mas asiáticos são os mais bem quistos do mundo

Gisele Darbellay, diretora na Imagem Corporativa 07 de novembro de 2025 4 minutos
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O passaporte de Singapura é hoje o mais poderoso do mundo, possibilitando que seus cidadãos acessem 193 países sem visto prévio. Em seguida vêm outros dois países asiáticos, o Japão e a Coréia do Sul, que podem acessar 190 destinos sem a necessidade de qualquer burocracia. O de acesso mais restrito (com apenas 25 destinos) é o do Afeganistão.

Esses dados foram levantados pela Henley&Partners, consultoria que classifica passaportes de 199 países com base no número de destinos que os titulares desses documentos podem visitar sem visto de chegada.

Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Espanha aparecem empatados em terceiro lugar com 189 destinos, seguidos por Áustria, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Suécia, com 188.

O passaporte americano é o décimo classificado (182), enquanto Argentina e Brasil estão na 16ª posição, com passe livre em 170 países.

Uma combinação de geopolítica, economia e soft power explica por que passaportes europeus estão, há anos, à frente do passaporte dos Estados Unidos no ranking de mobilidade global. Desde o Tratado de Schengen, de 1995, os países europeus eliminaram controles fronteiriços internos e harmonizaram parte das suas políticas de vistos com o resto do mundo. Isso criou um efeito multiplicador de reciprocidade diplomática.

Quando a União Europeia firma acordos de isenção de visto com um país, ele vale automaticamente para todos os 27 estados-membros de Schengen. A negociação coletiva da UE tem um peso político e econômico muito maior do que a negociação bilateral dos EUA. Países terceiros veem menos risco em conceder entrada livre a cidadãos europeus pela percepção de estabilidade, previsibilidade diplomática e baixa emigração irregular.

De braços abertos, mas com ressalvas

O poder econômico da Europa não é apenas questão de PIB total, mas de influência comercial distribuída. Enquanto os EUA são uma potência única, a UE é o maior parceiro comercial do mundo em conjunto, com tratados de livre comércio e parcerias de mobilidade com dezenas de países.

Países que buscam comércio, turismo ou investimentos europeus tendem a facilitar a entrada de europeus. Já os EUA mantêm políticas migratórias mais restritivas e seletivas, inclusive para países aliados — o que leva à retaliação diplomática recíproca. A Europa, por outro lado, mantém uma política de “mobilidade positiva”: quanto mais portas abre, mais portas se abrem de volta.

Há, porém, exceções que preocupam. O governo dinamarquês, atual líder da União Europeia, anunciou que vai pressionar por regras mais duras de imigração, especialmente em relação à permanência de asilados. Alegando pressão sobre os serviços públicos, a Dinamarca quer preservar seu modelo de Estado-bem-estar e uma política doméstica de controle.

A Grécia adotou uma das abordagens mais severas da Europa contra imigração irregular: suspensão de solicitações de asilo por três meses para quem chega por mar a partir da África do Norte e detenção indefinida em instalações antes da decisão, multas ou prisão para recusados.

A Suécia, historicamente um país aberto ao acolhimento de migrantes, aprovou reformas que estenderam o tempo mínimo de residência para naturalização de 5 para 8 anos, exigem maiores provas de integração, limitam benefícios sociais para quem busca asilo e dificultam vistos de trabalho.

Em várias nações, o foco mudou de admitir imigrantes de modo amplo para priorizar “mão-de-obra qualificada”, restringindo o acesso de estudantes estrangeiros ou trabalhadores de baixa qualificação. Esse endurecimento pode ter efeitos econômicos um pouco mais à frente: a demografia europeia está envelhecendo e há necessidade de mão-de-obra em vários setores.

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