Macron defende preferência europeia para veículos elétricos em meio a revisão de meta de 2035

05 de dezembro de 2025 4 minutos
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O presidente francês Emmanuel Macron utilizou sua visita oficial à China para pressionar por mudanças na política automotiva europeia, defendendo uma “preferência” para veículos elétricos fabricados na Europa enquanto a União Europeia revisa sua controvertida meta de proibir motores a combustão até 2035.

Durante uma coletiva em Chengdu nesta sexta-feira, Macron afirmou apoiar maior flexibilidade tecnológica para alcançar neutralidade tecnológica até 2035, sublinhando um consenso com a Alemanha sobre o tema. A declaração surge em momento crítico, com Bruxelas revisando sua estratégia de descarbonização sob intensa pressão das montadoras europeias.

A posição francesa combina dois objetivos aparentemente contraditórios: manter a meta climática de eliminar emissões de CO2 de carros novos até 2035, mas flexibilizar as tecnologias permitidas para alcançar esse objetivo. Na prática, isso significa abrir espaço para e-fuels e híbridos plug-in, além dos veículos totalmente elétricos.

“Devemos proteger nossa base de produção europeia”, argumentou Macron, sinalizando a intenção de criar barreiras contra importações, especialmente da China, que já responde por 13% das vendas de elétricos na Europa.

Exigências de conteúdo local

A proposta francesa vai além da flexibilidade tecnológica. O governo Macron quer que veículos elétricos vendidos na Europa incluam 75% de componentes fabricados localmente, alinhando-se aos níveis atuais de conteúdo local exigidos para carros a combustão. Segundo o jornal Le Figaro, a indústria automobilística francesa está buscando um selo “fabricado na Europa” com mínimo de 80% de componentes locais.

A França já implementa critérios de pegada de carbono em seus subsídios domésticos para elétricos, favorecendo produção europeia. O movimento reflete crescente preocupação com a competitividade da indústria automotiva europeia, que enfrenta custos de manufatura elevados, dependência asiática para baterias e concorrência chinesa agressiva.

Revisão antecipada da meta de 2035

A pressão por mudanças ganhou força após a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciar em setembro a antecipação da revisão da política, originalmente prevista para 2026. O comissário de transportes da UE afirmou que a Comissão será “aberta a todas as tecnologias” ao revisar a legislação sobre limites de emissões de CO2.

A revisão deve incluir o papel de e-fuels e biocombustíveis avançados, permitindo potencialmente que carros a combustão continuem sendo vendidos após 2035 se utilizarem combustíveis sintéticos. O pacote automotivo, inicialmente previsto para 10 de dezembro, deve ser adiado por várias semanas.

Montadoras europeias argumentam que as metas atuais são inviáveis sem incentivos massivos. Em carta aberta, executivos da Mercedes-Benz e Schaeffler afirmaram estar sendo “forçados a se transformar com as mãos atadas às costas”, pedindo subsídios fiscais e espaço para tecnologias híbridas.

Mercado em transformação lenta

Apesar do crescimento, a transição elétrica europeia avança mais devagar que o esperado. De janeiro a outubro de 2025, a Europa registrou 2,02 milhões de carros elétricos novos, representando 18,3% do mercado, aumento modesto em relação aos 15,4% de 2024.

A Alemanha recuperou a liderança como maior mercado de elétricos da Europa em 2025, com 434.627 unidades nos primeiros dez meses, superando o Reino Unido. A França ficou em terceiro lugar, com 250.418 registros.

O debate sobre flexibilizar a meta de 2035 divide a Europa. O Partido Popular Europeu, maior grupo no Parlamento, planeja propor emendas para reverter a proibição. Grupos ambientalistas e empresas do setor de elétricos, por outro lado, argumentam que manter o curso é essencial para impulsionar investimentos e inovação.

A visita de Macron à China adiciona ironia ao debate. Enquanto defende proteção contra importações chinesas, o presidente francês negocia em Pequim, epicentro da indústria de elétricos que domina 80% da produção global de baterias de lítio.

 

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