Emmanuel Macron, presidente da França, surpreendeu ao formar um novo governo dominado por membros da direita, liderado pelo conservador Michel Barnier, apesar da vitória da esquerda na última eleição geral antecipada. A escolha de Barnier, veterano negociador da saída do Reino Unido da União Europeia, reflete um momento de divisões políticas na França e no cenário europeu mais amplo.
A composição do novo governo, que inclui dez membros do Partido Republicano, marca uma aliança estratégica entre o partido centrista de Macron e os conservadores, em um parlamento fragmentado que terá dificuldades para aprovar novas leis sem o apoio de outras forças políticas. Um dos destaques é Bruno Retailleau, nomeado ministro do Interior, com a desafiadora tarefa de lidar com questões migratórias em um momento de crescente tensão social.
O cenário econômico não ajuda Macron. A União Europeia recentemente alertou a França sobre o crescente déficit público, que já ultrapassa os limites permitidos pelo bloco. O novo ministro das Finanças, Antoine Armand, tem a difícil missão de elaborar um orçamento que possa acalmar as preocupações de Bruxelas, enquanto tenta lidar com o déficit projetado para 2025, que deve ultrapassar 6% do PIB.
O presidente enfrenta uma oposição de diferentes frentes. A esquerda, liderada por Jean-Luc Mélenchon, já ameaça uma moção de desconfiança, e manifestações de milhares de pessoas em Paris expressam o sentimento de que a vitória da Nova Frente Popular (NFP) nas eleições não foi respeitada. Além disso, Marine Le Pen, da extrema-direita, que também ganhou força no parlamento, mantém uma posição ambígua, sem garantir apoio automático, o que pode tornar as negociações ainda mais complexas.
Macron aposta em Barnier como uma figura capaz de dialogar com diferentes facções do espectro político, mas a escolha de um governo de direita em um momento em que o país caminha para a esquerda pode inflamar ainda mais as tensões. As primeiras manifestações massivas, com mais de 100 mil pessoas nas ruas, indicam que o caminho será árduo. Mélenchon já declarou que o governo de Barnier deve ser “eliminado” o mais rápido possível, levantando dúvidas sobre a viabilidade dessa coalizão temporária.