
O compromisso com a sustentabilidade e a transição para uma economia verde foi o centro do painel Environment, realizado nesta terça-feira (15), durante o European Day, em Bruxelas. O debate reuniu lideranças do setor público, acadêmico e empresarial para discutir os desafios e as oportunidades da cooperação ambiental com foco no Acordo Mercosul-UE e no papel do setor privado na agenda climática global.
O painel foi moderado por Ciro Dias Reis, CEO da Imagem Corporativa, que abriu a discussão apontando o cenário complexo e, por vezes, desinformado em torno das questões ambientais no Brasil. “Precisamos reconhecer que o desmatamento é um problema a ser neutralizado. Por outro lado, o Brasil tem uma matriz energética extremamente limpa, com mais de um terço proveniente de fontes como eólica, solar e biomassa, além de uma forte base hidrelétrica”, destacou Ciro. Ele também ressaltou que eventos como a COP30, marcada para ocorrer em Belém no fim do ano, devem impulsionar soluções mais verdes por parte das empresas brasileiras.
Colombe Warrin, representante da Comissão Europeia e responsável pelo projeto “Europa Verde”, compartilhou os aprendizados da jornada ambiental europeia, destacando o Green Deal (Pacto Verde Europeu) como estrutura estratégica que orienta regulações como Lei de Restauração da Natureza e a do desmatamento. “Queremos evitar que produtos ligados ao desmatamento entrem na União Europeia. Isso não é uma barreira comercial, mas uma responsabilidade compartilhada. O Brasil tem muito a oferecer, e há mecanismos no acordo UE-Mercosul que permitem ajustes e compensações quando necessário”, explicou.
Colombe também defendeu que as políticas ambientais não são entraves para os negócios, mas sim investimentos estratégicos. “O meio ambiente não é custo. É investimento. A mudança climática já está afetando nossas economias e sociedades. Precisamos agir agora.”
Na sequência, Mariana Fleischhauer, gerente da FGV Europe em Colônia (Alemanha), reforçou a importância de as empresas brasileiras se posicionarem como parceiras confiáveis diante das exigências europeias. “O Brasil é um dos maiores fornecedores de minerais críticos para a Europa, como lítio, cobre e nióbio, e boa parte dessas reservas está na Amazônia. ESG não é só sobre reputação, mas uma questão de inteligência estratégica nacional”, afirmou.
Mariana também destacou a urgência de adequação aos padrões ambientais europeus. “As chamadas mirror clauses (cláusulas espelho) e regulações como a que proíbe a importação de produtos ligados ao desmatamento impõem um novo patamar de exigência. As empresas brasileiras devem usar isso como bússola para acessar o mercado europeu.”
Encerrando o painel, Leonardo C. Fleck, Head de Sustentabilidade do Santander Brasil, apresentou exemplos práticos do setor financeiro no apoio à transição verde. “Criamos uma taxonomia sustentável baseada nos padrões europeus, desenvolvemos frameworks de risco para tecnologias emergentes e trabalhamos com linhas de crédito como o Eco-Invest, do governo brasileiro, para viabilizar projetos de baixo carbono”, explicou.
Fleck também lembrou que o Brasil reduziu o desmatamento na Amazônia em 50% e no Cerrado em 25% no último ano. “Estamos avançando. O Santander quer ajudar seus clientes a traduzirem esse esforço em pontes com investidores e parceiros europeus. A sustentabilidade é, hoje, uma linguagem de negócios.”
Apesar dos desafios, as discussões deixam claro que existe espaço para a construção de uma agenda ambiental comum entre Mercosul e União Europeia, que possa acelerar a assinatura do acordo comercial.