
A inauguração do Jupiter, na Alemanha, marca uma tentativa decisiva da União Europeia de reduzir a distância em relação a Estados Unidos e China na corrida tecnológica global. Instalado no Centro de Supercomputação de Jülich, no oeste alemão, o sistema ocupa 3.600 metros quadrados, o equivalente a metade de um campo de futebol, e representa um investimento de 500 milhões de euros, dividido entre Bruxelas e Berlim.
O projeto é simbólico não apenas pela dimensão física ou pelo desempenho de exaescala, mas por revelar a ambição europeia em colocar ciência, inovação e soberania tecnológica no centro de sua agenda. Capaz de realizar um exaflop de cálculos por segundo, o Jupiter é descrito como o equivalente à potência combinada de dez milhões de laptops. Seu potencial será disponibilizado a universidades, centros de pesquisa e empresas interessadas em treinar modelos de inteligência artificial ou desenvolver aplicações em áreas estratégicas.
Apesar do marco, o lançamento também expõe os limites da Europa. O supercomputador depende de 24 mil chips da Nvidia, empresa norte-americana que domina o fornecimento de semicondutores para inteligência artificial. A dependência tecnológica revela a fragilidade europeia em um setor considerado crítico para o futuro econômico e geopolítico.
Os números ilustram essa desvantagem: em 2024, instituições dos Estados Unidos foram responsáveis por 40 modelos de IA considerados influentes, contra 15 da China e apenas três da Europa. O Jupiter, portanto, é menos um ponto de chegada e mais uma tentativa de recuperar terreno em um cenário onde Washington e Pequim disputam a liderança.
O uso do supercomputador não se limita à IA. Pesquisadores planejam explorar sua capacidade para previsões climáticas de longo prazo, com horizontes de até um século, ampliando a capacidade de antecipar eventos extremos como ondas de calor. Na área da saúde, o Jupiter permitirá simulações complexas do funcionamento do cérebro, abrindo caminho para novas abordagens em doenças como o Alzheimer. Já no campo da transição energética, o sistema poderá otimizar o design de turbinas eólicas e contribuir para estratégias de descarbonização.
O custo da potência
Com demanda média de 11 megawatts, o Jupiter consome energia suficiente para abastecer milhares de residências. Para mitigar esse impacto, utiliza sistemas de resfriamento por água e reaproveita o calor gerado no aquecimento de prédios vizinhos, uma solução que reflete a tentativa europeia de conciliar inovação tecnológica com metas ambientais.
O Jupiter coloca a Europa no mapa dos supercomputadores de exaescala, ao lado de três sistemas norte-americanos El Capitan, Frontier e Aurora e dos modelos chineses cujos detalhes permanecem pouco transparentes. Entre os dez computadores mais potentes do planeta, cinco já estão no continente europeu, incluindo o Lumi (Finlândia), o Alps (Suíça) e o Leonardo (Itália).