O acordo de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul, finalmente concluído após 25 anos de negociações, foi recebido com uma cobertura marcada por ceticismo pragmático nos principais jornais da Europa. Enquanto veículos de países como Alemanha e Espanha (cujos governos apoiam abertamente o projeto) destacaram o marco estratégico e econômico do pacto, publicações na França e nos países nórdicos adotaram um tom mais crítico, questionando os compromissos ambientais e o impacto sobre o setor agrícola europeu.
- Otimismo Moderado nos Países Líderes da UE
Jornais como o Frankfurter Allgemeine Zeitung (Alemanha) e El País (Espanha) adotaram um tom predominantemente positivo, enfatizando os benefícios econômicos e estratégicos do acordo. O destaque está na potencial diversificação de mercados, crucial em um momento de tensões geopolíticas e disputas comerciais com China e Estados Unidos.
- El País: “O acordo solidifica a posição da União Europeia como uma parceira global estratégica e oferece oportunidades significativas para exportadores europeus de bens industriais.”
- Frankfurter Allgemeine Zeitung: “A parceria é essencial para garantir acesso a recursos agrícolas e minerais, além de fortalecer o papel da UE em novas cadeias de valor, como as energias renováveis.”
Esse otimismo, porém, vem acompanhado de cautela, com editoriais sugerindo que a aprovação do acordo nos parlamentos nacionais ainda enfrenta resistências.
- Preocupações com a Concorrência e Sustentabilidade
Na França, jornais como Le Monde e Le Figaro adotaram um tom mais crítico, apontando possíveis impactos negativos para setores agrícolas e ambientais. A oposição francesa se concentra na ameaça percebida ao agronegócio europeu e a suposta falta de compromissos mais rígidos por parte dos países do Mercosul em questões climáticas.
- Le Monde: “Os agricultores franceses temem ser sacrificados em nome de uma agenda comercial que favorece grandes conglomerados industriais europeus.”
- Le Figaro: “O acordo pode enfraquecer os padrões ambientais da União Europeia, com o Brasil, sob pressão do agronegócio, não oferecendo garantias suficientes.”
O tom reflete a pressão de sindicatos agrícolas e organizações ambientais, que têm forte influência na política local. A França, sabidamente, é o país que mais se opõe a parceria EU-Mercosul.
- Enfoque Ambiental no Norte da Europa
Nos países nórdicos, como Suécia e Dinamarca, o tom das reportagens, principalmente em veículos como Dagens Nyheter e Politiken, é de ceticismo ambiental. Os jornais destacam que os compromissos climáticos do Mercosul ainda estão aquém das expectativas, o que pode comprometer as metas verdes da UE.
- Dagens Nyheter: “O pacto parece ignorar os impactos do desmatamento acelerado na Amazônia, algo que contradiz os princípios fundamentais do Green Deal europeu.”
- Misto de Esperança e Realismo na Itália e Portugal
Em países como Itália e Portugal, os jornais equilibram os benefícios econômicos com os desafios ambientais. Corriere della Sera destaca a necessidade de pactos adicionais para proteger as pequenas empresas, enquanto o Público elogia o potencial do acordo para aproximar duas regiões historicamente ligadas.
- Corriere della Sera: “A Itália está pronta para aproveitar o novo mercado, mas é essencial proteger produtores locais contra práticas desleais.”
- Público: “O acordo reforça laços culturais e históricos, mas não pode ignorar questões climáticas globais.”