
O futebol europeu já não é apenas sobre rivalidade entre clubes históricos. Cada vez mais, é um mercado disputado por investidores. A nova temporada das principais ligas do continente confirma uma mudança estrutural: grandes fundos, bilionários e grupos estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos e do Oriente Médio, ampliam seu domínio sobre os times. O modelo tradicional de clubes geridos por torcedores ou famílias está se tornando exceção.
Na Premier League, essa transformação já aconteceu. Dos 20 clubes da liga mais rica do mundo, 16 pertencem a investidores estrangeiros. A lista inclui grupos americanos (como o Fenway Sports Group, do Liverpool), árabes (como o City Football Group, do Manchester City) e bilionários individuais (caso de Todd Boehly no Chelsea). A mesma tendência se espalha por outras ligas, com a Série A italiana se tornando um dos mercados mais atraentes. Hoje, nove dos 20 clubes da primeira divisão italiana são controlados por norte-americanos – entre eles Milan, Inter, Roma e Fiorentina.
Os negócios não param por aí. Divisões inferiores também chamam atenção, como o Ipswich Town, na Inglaterra, que recebeu investimentos pesados de um grupo americano com um objetivo claro: subir para a Premier League e aumentar exponencialmente seu valor. O mesmo acontece na França e na Espanha, onde investidores estrangeiros buscam clubes menores para valorização a médio prazo.
Esse crescimento esbarra em desafios. A UEFA já precisou intervir para evitar conflitos de interesse entre clubes com o mesmo dono. No início da temporada, Manchester City e Girona – ambos do City Football Group – se classificaram para a Liga dos Campeões, o que exigiu ajustes para que a situação fosse aceita pelas regras da entidade. O mesmo ocorre com o Red Bull Salzburg e o RB Leipzig, ambos sob a gestão da Red Bull.
O resultado de tudo isso é um futebol cada vez mais globalizado nos bastidores. As decisões financeiras tomadas em Nova York, Abu Dhabi ou Los Angeles têm impacto direto no que acontece dentro de campo em Londres, Milão ou Munique. O modelo do futebol europeu pode até preservar suas tradições, mas quem manda nele está mudando rapidamente.