O governo finlandês está trabalhando em uma tecnologia que pode se tornar o mais ambicioso assistente de inteligência artificial desenvolvido pelo setor público do mundo. Batizada de Aurora, essa plataforma digital pretende oferecer uma seleção personalizada de serviços para cada usuário, filtrando-os de acordo com suas necessidades individuais em diferentes momentos da vida.
No coração de Aurora está o chamado reinforcement learning, ou "aprendizado por reforço", uma das áreas do campo de estudos de machine learning (aprendizado da máquina), no qual o software identifica as combinações de serviços – de provedores públicos e privados – mais populares com determinados grupos de usuários ao longo do tempo. Esses serviços sobem na lista de prioridades dos usuários, enquanto as combinações menos populares vão ficando pelo caminho no menu de ofertas.
O designer do projeto diz que grupos de usuários serão criados a partir de dados pessoais completamente anônimos. "Quanto mais informações anônimas tivermos agrupadas, melhor poderemos oferecer serviços relevantes e personalizados para um único indivíduo e participar da aproximação do indivíduo e da sociedade", disse ao site ZDNet Antti Hahto, chefe de ciência de dados da consultoria de TI Cybercom Finland. "Quando os dados são necessários de maneira individualizada, seguiremos o princípio de que o usuário – e mais ninguém – é o dono das informações."
LEIA TAMBÉM:
– Finlândia começa a treinar a população para o caminho sem volta da inteligência artificial
– Finlândia e Suécia estão entre os países mais inovadores do mundo, segundo ranking da Bloomberg
A ideia finlandesa de disseminação da inteligência artificial como política de Estado foi apresentada em dezembro de 2017, quando o Ministério da Economia e Emprego divulgou um relatório sobre a estratégia do país para a adoção dessa tecnologia. No documento “A era finlandesa da inteligência artificial – Transformando a Finlândia em um país líder na aplicação de inteligência artificial”.
Escrito por economistas e tecnólogos finlandeses, o documento apresenta uma visão ousada para o futuro da nação quando se trata de desenvolver e usar inteligência artificial. O texto diz explicitamente: "Dentro de cinco anos, a inteligência artificial será uma parte ativa da vida diária de todos os finlandeses."
Aurora será o primeiro assistente de inteligência artificial construído por e para o setor público de um país, o que o diferencia de assistentes privados como Alexa, da Amazon, Siri, da Apple e o Google Assistant. Um dos trechos mais interessantes do documento de 2017, aliás, faz menção aos assistentes mais conhecidos.
“Há inúmeros exemplos no setor privado em que a inteligência artificial foi usada para servir as pessoas. Uma ferramenta é o smartphone. O assistente Siri, da Apple', e o Bixby, da Samsung, são assisntentes pessoais que aprendem a atender o usuário de maneira específica. Por que o setor público não pode fazer o mesmo?”
Aurora entrou em fase experimental em setembro do ano passado, com foco em três cenários específicos: mudança para um novo local de estudos, cursos de reciclagem profissional e apoio a pais e crianças em momentos de mudança no relacionamento familiar.
A fase preliminar de estudos do assistente será concluída no fim deste mês, e um relatório está previsto para abril. Se os resultados forem positivos, Aurora será mais desenvolvida de maneira ainda mais aprofundada no período entre 2019 e 2022.
(Foto: Federico Bottos)