Os desarranjos de cadeias produtivas resultantes da pandemia da Covid-19 (que impactaram diversos segmentos econômicos) e a invasão da Ucrânia pela Rússia (que elevou os preços da energia) geraram nos últimos anos níveis de inflação que a Europa não via há décadas. Isso levou diversas empresas dos setores de alimentação, bebidas, moda & beleza a aproveitarem esse cenário econômico atípico para remarcar seus preços em níveis considerados exagerados por órgãos de controle do continente.
Esse foi o gatilho para levou autoridades regulatórias da União Europeia, do Reino Unido e da Suíça a ampliar em 2023 as ações surpresa junto a grandes players da área de consumo (ver gráfico abaixo) visando inspecioná-los e identificar os mecanismos adotados para aumentar preços de forma potencialmente abusiva.
O mercado global de varejo cresceu em média 10% no ano passado segundo a consultoria Bain & Company. E segundo o jornal inglês Financial Times, 95% do faturamento adicional obtido por empresas de consumo na Europa naquele período foi resultado de aumento de preços.
A inflação na zona do euro havia atingido o pico de 10,6% anuais em outubro de 2022 e baixou para 2,9% anuais no último trimestre de 2023. Mas essa redução no índice geral de preços mascara a pressão do custo específico dos alimentos, que continua alto segundo uma conta simples: a diferença entre a inflação desses produtos menos a inflação geral na zona do euro foi de 4,6 pontos percentuais naquele final do ano. Esse cenário prejudica, evidentemente principalmente as camadas de menor renda no conjunto dos países europeus.