Indústria da moda começa a arcar com a conta ambiental de suas coleções

Luciane Sarabando, Diretora na Imagem Corporativa 19 de setembro de 2025 4 minutos
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A União Europeia aprovou um pacote regulatório que promete mudar o rumo da indústria da moda. Pela primeira vez, marcas de vestuário, incluindo gigantes do fast fashion, serão obrigadas a pagar pelo descarte das roupas que colocam no mercado. A medida faz parte da revisão da Waste Framework Directive, que estabelece a Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR) para o setor têxtil.

A coleta separada de têxteis para reutilização e reciclagem já é obrigatória nos países-membros da União Europeia desde 1º de janeiro de 2025. A nova diretiva, aprovada em setembro, acrescenta agora a exigência de que os Estados-membros implementem esquemas de EPR no prazo de até 30 meses após sua entrada em vigor, com um ano adicional para microempresas.

As mudanças atingem fabricantes, lojistas e consumidores. As marcas passarão a pagar taxas proporcionais ao impacto ambiental de seus produtos. Peças duráveis, fáceis de reparar e recicláveis terão custos menores. Para as empresas de fast fashion, o modelo tende a gerar custos maiores, já que muitas de suas coleções são produzidas com peças de curta durabilidade e baixo potencial de reaproveitamento. Além disso, práticas como a destruição de itens devolvidos ou não vendidos passarão a ser mais reguladas e acompanhadas de perto pelas autoridades.

A dimensão do problema

A Europa gera cerca de 7 a 7,5 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, o que corresponde a pouco mais de 15 quilos por pessoa. Cada cidadão consome em média 19 quilos de roupas anualmente e descarta 12 quilos. Apenas 1% de todo esse volume é reciclado fibra a fibra, e entre 4% e 9% de todos os têxteis produzidos na região são destruídos antes mesmo de chegar aos consumidores, o que representa de 264 mil a quase 600 mil toneladas anuais de peças inutilizadas.

O setor de moda e têxteis é estratégico para a Europa. Ele emprega cerca de 5 milhões de pessoas diretamente apenas na cadeia de moda e artigos de luxo, movimenta cerca de 331,8 bilhões de euros por ano e representa aproximadamente 2% do PIB do bloco. Estima-se que existam perto de 200 mil empresas ligadas ao setor, com forte presença de pequenas e médias companhias. O mercado europeu de importações de vestuário alcançou 176,9 bilhões de euros em 2023, com grande dependência de fornecedores em países em desenvolvimento.

Esse peso econômico reforça o impacto potencial da nova legislação, que busca reorientar um setor altamente globalizado e dependente de modelos de consumo acelerado.

Iniciativas globais e metas climáticas

A UE se posiciona como pioneira. O Reino Unido discute propostas semelhantes, mas em estágio menos avançado. Nos Estados Unidos, iniciativas de responsabilidade estendida do produtor existem de forma fragmentada em nível estadual ou municipal, sem coordenação federal. A China avança em programas de economia circular, mas ainda sem um esquema nacional de EPR específico para têxteis.

O novo pacote europeu integra a estratégia do Green Deal e do Plano de Economia Circular, que visam reduzir emissões e tornar o bloco neutro em carbono até 2050. Ao exigir que marcas internalizem o custo ambiental de suas coleções, a UE conecta a regulação do setor de moda às metas climáticas de longo prazo, reforçando a transição para padrões de produção e consumo mais sustentáveis.

Especialistas destacam que a medida é um divisor de águas. De um lado, força as grandes varejistas a reverem seu modelo baseado em coleções rápidas e preços baixos. De outro, pode abrir espaço para inovação em design sustentável, aumento da transparência e estímulo a novos negócios circulares, como aluguel, revenda e serviços de reparo. Para o consumidor, a lei promete acelerar a transição para um guarda-roupa mais consciente e durável.

 

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