A inteligência artificial representa um dos desenvolvimentos mais transformadores da era digital e carrega consigo uma combinação complexa de riscos e benefícios. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, descreveu o impacto da IA no trabalho global como um “tsunami”, prevendo que a tecnologia afetará cerca de 60% dos empregos nas economias avançadas e 40% dos postos de trabalho no mundo em um horizonte de dois anos. Em evento recente, a diretora do Federal Reserve (Fed), Lisa Cook, destacou que, embora a IA prometa elevar a produtividade, também traz riscos de desemprego e pressões de adaptação acelerada para trabalhadores. Dado que a Europa está na linha de frente das regulamentações tecnológicas, as decisões do continente terão impacto global.
Cook enfatizou que setores que dependem de tarefas repetitivas ou de baixa complexidade são os mais ameaçados pela IA, com a substituição de funções humanas por processos automatizados já em andamento. Estudos apontam que empregos como atendimento ao cliente, funções de transporte e operações de fábricas são especialmente vulneráveis a esses avanços. Porém, ela também destacou que a IA pode atuar como uma ferramenta de requalificação, permitindo que trabalhadores realizem tarefas mais estratégicas e criativas, e impulsionando a produtividade em áreas como saúde, finanças e administração pública.
Esse aumento na eficiência e a liberação de profissionais para ocupações mais complexas têm o potencial de criar novas categorias de emprego, mudando a configuração do mercado de trabalho europeu. No entanto, um dos maiores desafios identificados é a requalificação, exigindo que trabalhadores adquiram habilidades constantemente, uma tarefa particularmente desafiadora para aqueles em ocupações de média qualificação.
A lei de IA e o papel que a União Europeia desempenha
Em maio, a União Europeia aprovou a Lei de IA, que visa estabelecer normas para o uso e desenvolvimento responsável dessa tecnologia. O projeto inclui diretrizes específicas para tecnologias de “propósito geral” (GPAI), como é o caso do ChatGPT, embora a aplicação prática dessas regras ainda levante dúvidas. Entre as incertezas, estão questões ligadas à privacidade, segurança e direitos autorais.
Gigantes da tecnologia têm pressionado os legisladores europeus por uma abordagem mais equilibrada. O medo de uma regulamentação rigorosa demais está relacionado ao risco de sanções financeiras pesadas, além de possíveis entraves ao desenvolvimento de soluções inovadoras. A preocupação central das empresas de tecnologia é que restrições excessivas possam reduzir a competitividade europeia, já que a IA é vista como uma ferramenta essencial para impulsionar áreas-chave como transporte, educação e até mesmo sustentabilidade.
Empresas como Google, Microsoft e Meta têm acompanhado de perto o debate legislativo, argumentando que uma regulação equilibrada permitiria inovação com responsabilidade. Uma regulamentação excessiva, argumentam, poderia inibir o potencial da IA de trazer benefícios significativos para a economia europeia. Com o peso da multa como um dos principais pontos de preocupação, as Big Techs defendem que uma abordagem moderada não apenas preservaria o crescimento do setor, mas também garantiria que o continente continue atraindo investimentos em tecnologia.