As negociações estão tensas e os sinais das autoridades mudam a cada minuto, mas a possibilidade de um Brexit sem acordo comercial está cada vez mais real. E a saída do Reino Unido da União Europeia sem nenhum tratado suplementar gera riscos de problemas na fronteira entre as Irlandas, nas transações comerciais e financeiras. Porém, para a Islândia, há o receio real da volta da chamada “guerra do bacalhau”.
Com o Reino Unido ainda seguindo as regras da união aduaneira com a União Europeia, todo o Atlântico Norte é livre para a pesca dos países membros. Porém caso o Brexit vire realidade a partir de 1º de janeiro de 2021 sem nenhum acordo alternativo, mesmo que provisório, a disputa por território de pesca pode se agravar e voltar a situações do passado, em uma disputa encerrada em 1970.
Ontem o jornal inglês “The Guardian” afirmou que quatro navios de patrulha da Marinha Real estarão prontos, a partir da virada do ano, a protegerem as águas pesqueiras do Reino Unido. Se isso for verdade, o estopim de uma crise pode começar dos ingleses, diferente do que ocorreu em 1958, quando os islandeses tomaram as atitudes que geraram a animosidade entre os dois países.
Em setembro daquele ano a “Ilha do Gelo e do Fogo” decidiu, de forma unilateral, estender seu limite de pesca de quatro para 12 milhas náuticas de sua costa. A atividade econômica mais importante do país nórdico, a pesca corria riscos em seu território marítimo e o país decidiu ampliar seu espaço de exploração exclusiva. Mas isso chocou com os limites britânicos.
A Grã-Bretanha recusou-se a reconhecer a declaração unilateral e implantou três fragatas e um caça-minas oceânico para proteger os navios pesqueiros britânicos. A esquadra de guerra inglesa foi posicionada em oposição à guarda costeira islandesa, composta por oito pequenas embarcações. As tensões foram crescentes e por pouco os dois países não iniciaram uma guerra de fato nos mares do Atlântico Norte, tendo a pesca do bacalhau como principal produto a ser disputado.
Em 1973 a Islândia ampliou ainda mais a sua zona de pesca exclusiva, para 50 milhas náuticas. Novas fragatas britânicas foram enviadas à região e a embaixada britânica em Reykjavik chegou a ser apedrejada. A situação chegou ao ápice em 1976, quando a Islândia ampliou sua zona exclusiva de pesca para 200 milhas. Uma fragata da Marinha Real chegou a colidir com a canhoneira Thor, islandesa, em 1976.
Mas antes que a guerra de fato ocorresse, um acordo foi firmado em 1º de junho de 1976, em parceria entre a então Comunidade Europeia e a Otan, garantindo aos ingleses a permissão para manter 24 navios que fazem os arrastões de bacalhau dentro da zona de 200 milhas, desde que sua captura fosse limitada a 50.000 toneladas.Na prática, isso limnitou muito a atuação dos britânicos na pesca do ártico. Um acordo de compensação financeira para estas famílias foi assinado por Londres no ano 2000. E agora, quando tudo parecia resolvido, surgem novos dilemas.