Guerra da Ucrânia: a geopolítica da Europa volta ao “normal”

Danilo Valeta, diretor na Imagem Corporativa 20 de setembro de 2024 3 minutos
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A Europa não tem visto muitos conflitos armados entre nações do bloco nas últimas décadas. Tirando guerras civis e movimentos separatistas que volta meia explodem na Georgia ou em Kosovo, o último grande embate entre países foi a Guerra da Bósnia, que terminou em 1995. Isso mudou com a invasão da Ucrânia pela Russia, processo que se iniciou em 2014, com a anexação da Criméia, e que segue em curso até hoje.

A volta do conflito armado entre potências é um retorno ao “normal” da geopolítica europeia, de acordo com o professor da FGV e pesquisador visitante da Universidade de Harvard, Oliver Stuenkel. “A Europa teve muita sorte, ao longo dos últimos 80 anos, de obter uma garantia de segurança dos EUA após o fim da 2ª guerra. O normal na geopolítica da Europa era a tensão constante entre potências. A geração do pós-guerra é a primeira a não viver sob a sombra constante da guerra”, explicou o professor durante o European Day.

Para Stuenkel, a ausência de conflitos armados entre nações dentro do continente europeu é uma exceção, e não uma regra. O inusitado século de paz na Europa foi ao mesmo tempo causa e consequência da multiplicação de organismos multilaterais de resolução de conflitos e integração, com a União Europeia sendo o maior exemplo. Mas agora, movimentos anti-globalização que florescem tanto à direita quanto a esquerda, empurram a geopolítica europeia para sua normalidade histórica. Para o professor, o sentimento antiglobalista é alimentado pela perda de relevância econômica do bloco frente a potências como EUA e China, que não foi acompanhada por uma diminuição do estado de bem-estar social. O resultado foi uma Europa estagnada economicamente, e uma população cada vez mais preocupada com a capacidade de seus governos de tomarem conta dos cidadãos.

“O  perfil demográfico da Europa indica que, para manter sua força de trabalho e capacidade produtiva, o continente depende de um fluxo constante de imigrantes que, embora consigam se integrar economicamente à população, não se integram culturalmente com a mesma facilidade”, explicou Stuenkel. “Diferente dos Estados Unidos, não existe o mito do imigrante na cultura Europeia. Então essa integração não é simples.”

O ressentimento contra imigrantes tem feito ressurgir ideais nacionalistas, isolacionistas e xenofóbicos que estiveram dormentes desde a derrocada do nazismo, sentimentos que tem sido explorados pelos inimigos geopolíticos do bloco Europeu, via campanhas de desinformação, para minar o sistema democrático em cima do qual a União Europeia se equilibra. Ainda assim, a Europa ocidental tem se mostrado bastante resiliente em seus fundamentos democráticos. “Apesar de tudo,   a União Europeia está bem-preparada para lidar com as tensões, mesmo com o crescimento de grupos autoritários. A  democracia na Europa continua pujante”, concluiu o professor.

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