
A ministra das Finanças do Reino Unido, Rachel Reeves, apresentou nesta quarta-feira seu segundo orçamento desde que assumiu o cargo, elevando tributos em 26 bilhões de libras (US$ 34 bilhões) numa tentativa de equilibrar as contas públicas e financiar serviços essenciais. A medida representa o segundo ajuste fiscal significativo em menos de 13 meses, período em que o governo trabalhista tenta reverter o que classifica como herança problemática dos conservadores.
A proposta orçamentária, cujos detalhes vazaram acidentalmente pelo Escritório de Responsabilidade Fiscal (OBR) minutos antes do anúncio oficial, projeta elevar a carga tributária britânica para 38% do PIB até 2030, o maior patamar desde a Segunda Guerra Mundial. O vazamento, que Reeves classificou como profundamente decepcionante, permitiu que os mercados reagissem às medidas antes mesmo de sua apresentação formal ao Parlamento.
O conjunto de medidas inclui a extensão do congelamento das faixas de imposto de renda até 2030, política que analistas descrevem como um aumento tributário indireto. Segundo o OBR, o congelamento resultará em 780 mil novos contribuintes na alíquota básica, 920 mil na alíquota superior e 4 mil na faixa adicional, gerando receita estimada em 7,6 bilhões de libras até 2029-30.
Entre as principais mudanças, destaca-se a criação de um imposto sobre imóveis de alto padrão, com taxas anuais que variam de 2,5 mil libras para propriedades acima de 2 milhões de libras até 7,5 mil libras para residências superiores a 5 milhões de libras. Motoristas de veículos elétricos pagarão um novo tributo de 3 pence por milha a partir de abril de 2028, numa tentativa de compensar a queda na arrecadação com combustíveis fósseis.
O orçamento também prevê aumentos de dois pontos percentuais nas alíquotas sobre rendimentos de poupança, imóveis e dividendos a partir de abril de 2027. As contribuições de pensão por meio de sacrifício salarial acima de 2 mil libras anuais passarão a ser tributadas pelo seguro nacional a partir de 2029.
Em movimento considerado significativo por analistas sociais, Reeves confirmou o fim da política que limitava benefícios sociais para famílias com mais de dois filhos. A medida, introduzida pelos conservadores em 2017, deve tirar 350 mil crianças da pobreza, segundo projeções do governo.
O OBR reduziu suas projeções de crescimento econômico para os próximos anos, mantendo a estimativa de 1,5% para 2025, mas cortando as previsões subsequentes. As previsões foram revisadas para baixo em relação aos planos anteriores do governo conservador, refletindo questões de produtividade na economia britânica.
A estratégia fiscal de Reeves enfrenta críticas de diferentes setores. Empresários alertam que o aumento de custos, especialmente com as contribuições patronais ao seguro nacional anunciadas no orçamento anterior, tem forçado cortes de empregos. Ao mesmo tempo, o governo enfrenta o desafio de cumprir a promessa eleitoral de não elevar as principais alíquotas de imposto de renda, IVA ou contribuições de seguro nacional pagas por empregados.
O orçamento também prevê congelamento das tarifas ferroviárias e das taxas de prescrição médica no sistema público de saúde inglês, medidas voltadas a aliviar o custo de vida das famílias britânicas. Reeves argumenta que as decisões difíceis são necessárias para reconstruir a economia e fortalecer o Serviço Nacional de Saúde, prioridades centrais do governo trabalhista.





