O consórcio europeu Airbus e os conglomerados industriais Thales, da França, e Leonardo, da Itália, estão finalizando ajustes para juntos criarem um competidor de peso no setor aeroespacial. Objetivo: disputar com seus satélites o mercado global com a vitoriosa Starlink, de Elon Musk.
A iniciativa pode ser considerada o primeiro resultado concreto do ambiente gerado na Europa em termos políticos e econômicos após a divulgação recente de estudo elaborado pelo respeitado economista Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu e ex-primeiro ministro da Itália. O estudo, encomendado pela União Europeia, tem como título “O futuro da competitividade europeia” e destaca a necessidade tanto de um rápido aumento da produtividade no continente como de grandes saltos no campo da alta tecnologia.
Dificuldades à parte da recuperar tempo e terreno perdidos, se olharmos para o passado relativamente recente, em termos históricos, é possível antever uma movimentação potencialmente stimulante.
A referência, neste caso, é o caso Airbus.
Na segunda metade dos anos 1960 França, Inglaterra e Alemanha decidiram unir forças para criar uma empresa do setor aeronáutico destinada a projetar e fabricar uma moderna geração de jatos comerciais. A nova empresa, batizada de Airbus, teria como mercado natural, inicialmente, os países europeus. Mas o planejamento de médio e longo prazos previa competir em pé de igualdade com os gigantes americanos bem-sucedidos de então, a Boeing (no seu auge com os modelos 727, 737 e 747) e McDonnell Douglas (com seus DC-8, DC-9 e DC-10).
O planejamento deu certo. Cerca de sessenta anos depois, a Airbus é líder mundial do setor, posição que conquistou no final da última década. Desde 2019, o consórcio europeu entregou mais de 3.800 aviões no mercado, enquanto os clientes da Boeing receberam apenas cerca de 2.100 modelos da empresa americana (esta comprou a rival McDonnell Douglas em 2017).
Em 2023 a Airbus entregou 735 aviões comerciais, 11% mais que em 2022. No mesmo período, os números da Boeing foram de 528 unidades. Em 2024 a liderança europeia se repete: até agosto a Airbus recebeu 386 novas encomendas, em contraste com as 228 encomendas da Boeing.
Até o momento os três gigantes europeus, que já fabricam separadamente seus próprios satélites com resultados financeiros pouco favoráveis, se limitam a informar que estão explorando a possibilidade de trabalharem de forma conjunta para ganhar escala. Mas se o projeto for a frente a comparação com a ousadia da inicial da Airbus será natural: a expectativa é de que os europeus venham a se transformar em players globais de primeira grandeza na área de satélites, ainda que no atual cenário, ao contrário dos anos 1960 e 1970, mais países estejam no jogo: China (principalmente) e Índia (avançando rapidamente) também possuem a mesma fome de protagonismo no setor, em função de seu valor crescentemente estratégico econômica e geopoliticamente.