Gigantes das telecomunicações cobram ação imediata de von der Leyen sobre atraso digital

30 de outubro de 2025 4 minutos
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Quase um ano depois de Ursula von der Leyen prometer restaurar a competitividade europeia, os principais executivos de telecomunicações do continente perderam a paciência. Em carta aberta divulgada nesta semana, 23 líderes de operadoras, fabricantes de equipamentos e entidades setoriais alegam que a Comissão Europeia está colocando em risco o futuro digital da região com “ações lentas e tímidas”, numa crítica elegante no tom, mas contundente no conteúdo.

O documento, assinado por CEOs de pesos-pesados como Deutsche Telekom, Vodafone, Orange, BT Group, Ericsson e Nokia, além das associações GSMA e Connect Europe, expõe um contraste incômodo: enquanto apenas 2% dos europeus têm acesso a redes 5G standalone (a versão mais avançada da tecnologia), um quarto dos americanos e mais de 77% dos chineses já contam com essa infraestrutura. A mensagem é direta: a Europa está ficando para trás.

“O continente que uma vez liderou agora fica atrás de outros grandes mercados em vários aspectos, do crescimento econômico à segurança e ao estímulo à inovação”, diz o texto, que aponta “fragmentação e políticas destrutivas de valor” como causas do problema. A menção não é gratuita: a Europa tem mais de 100 operadoras móveis espalhadas por 27 países, uma pulverização que, segundo os signatários, impede investimentos na escala necessária para competir com Estados Unidos e Ásia.

O setor já investiu mais de € 500 bilhões na última década para implantar o 5G no continente, mas o ritmo continua aquém do necessário. A carta argumenta que sem escala, as empresas europeias não conseguem investir no mesmo passo que suas rivais americanas e asiáticas numa área onde capital massivo e mercados integrados permitiram avanços mais rápidos.

O atraso tem consequências práticas: com 84% de todas as conexões globais de internet ocorrendo via mobile, a ausência de redes 5G standalone robustas coloca em risco setores industriais inteiros – de montadoras a fintechs, que dependem de conectividade de alta qualidade para explorar dados industriais e desenvolver aplicações de inteligência artificial.

“As potências industriais europeias, da indústria automotiva ao setor financeiro, podem em breve se assemelhar a castelos de cartas sem a conectividade necessária para explorar, escalar e aproveitar novos serviços”, alerta o documento.

A carta deposita esperanças no Digital Networks Act (DNA), legislação que a Comissão Europeia está preparando como parte de sua agenda de reformas. Para os signatários, essa é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. Eles pedem um marco regulatório simplificado e ambicioso que reconheça a conexão entre escala e investimento.

O apelo ganha peso ao invocar o relatório de Mario Draghi sobre competitividade europeia, publicado há um ano e amplamente aceito como diagnóstico correto dos problemas do continente. A frustração dos executivos é evidente: von der Leyen fez sua “convocação” à Comissão há 12 meses, mas pouco avançou desde então.

“Sua soberania, segurança e capacidade de proteger seus valores dependem de a Comissão cumprir sua promessa de reforma séria”, afirma o texto, dirigido diretamente à presidente da Comissão.

Contexto geopolítico

O timing da carta não é casual. A Europa enfrenta pressões crescentes para reduzir dependências tecnológicas de potências rivais, especialmente da China, enquanto tenta se posicionar como polo de inovação em inteligência artificial, ambição que depende fundamentalmente de infraestrutura digital robusta.

A ausência dessa base coloca em xeque não apenas a competitividade econômica, mas também objetivos estratégicos como a autonomia tecnológica e a resiliência em setores críticos – da energia à mobilidade, passando pela chamada Indústria 4.0.

Os signatários afirmam estar prontos para apoiar a Comissão, mas deixam claro que a União Europeia precisa entrar em 2026 com um plano de ação concreto. O recado é claro: a paciência acabou, e o risco de irrelevância digital cresce a cada dia de inação.

 

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