
O Fundo Monetário Internacional apresentou recentemente uma proposta pragmática para acelerar o crescimento da União Europeia: quatro reformas estruturais que, segundo suas projeções, poderiam elevar o PIB do bloco em 3% ao longo de uma década. A estratégia, descrita por Alfred Kammer, diretor do departamento europeu do FMI, como um “pagamento inicial”, busca contornar a paralisia política que há anos impede avanços na integração econômica europeia.
As medidas concentram-se em áreas técnicas com potencial transformador: redução dos custos de energia elétrica, ampliação da mobilidade de trabalhadores, harmonização das leis de falência e aumento da participação de fundos de pensão no capital de risco europeu. São reformas modestas em escopo, mas que poderiam desbloquear recursos travados por diferenças regulatórias nacionais — e ganham urgência num contexto em que o FMI prevê crescimento de apenas 1,2% para a zona do euro em 2025.
O mercado fragmentado que funciona como tarifa interna
O diagnóstico do FMI expõe um paradoxo: as barreiras comerciais internas ao bloco equivalem a uma tarifa de 44% sobre bens e 110% sobre serviços. Negociar entre países da UE pode ser mais difícil do que comercializar com parceiros externos, corroendo a principal vantagem competitiva do bloco – seu mercado de 450 milhões de consumidores.
Kammer argumenta que mesmo uma redução modesta dessas barreiras neutralizaria pressões protecionistas externas. Cortar 1,25 ponto percentual nas barreiras internas ou 3,5 pontos nas externas compensaria eventuais tarifas americanas mais altas. É uma constatação que desloca parte da responsabilidade pela competitividade das negociações transatlânticas para decisões que dependem exclusivamente das capitais nacionais.
A tensão entre potencial e coordenação
A avaliação de Kammer contém uma ambiguidade reveladora. O bloco possui simultaneamente base industrial robusta e capacidade de inovação avançada, vantagem sobre Estados Unidos (forte em inovação, fraco em manufatura) e China (dominante na produção, em desenvolvimento tecnológico). Mas interesses nacionais e resistências de ministérios da Justiça e do Trabalho dificultam a coordenação necessária.
“O problema é a largura de banda”, afirmou Kammer, referindo-se aos líderes europeus sobrecarregados por questões domésticas. Não falta consciência sobre o que fazer, mas capacidade política para executar reformas que, embora benéficas para o conjunto, geram custos políticos localizados.
A União Europeia trabalha na criação de uma União de Poupança e Investimento para mobilizar cerca de 10 trilhões de euros em depósitos bancários de baixa rentabilidade, direcionando-os para investimentos mais produtivos. O projeto enfrenta o mesmo obstáculo: harmonizar 27 sistemas tributários, trabalhistas e jurídicos distintos. A proposta do FMI de começar por reformas menores tenta criar o ímpeto necessário para mudanças mais profundas.
Entre consenso e ação
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reconheceu em janeiro que “a Europa tem o que precisa para ganhar a corrida para o topo”, mas enfatizou a necessidade de “passar do consenso à ação”. A Bússola para a Competitividade, apresentada no início do ano, incorpora recomendações semelhantes e estabelece metas ambiciosas, incluindo redução de 35% na carga administrativa para pequenas e médias empresas.
Segundo o FMI, todos os 27 países-membros registrariam crescimento adicional do PIB entre 2% e 5% após uma década, embora com ganhos desiguais. Kammer argumenta que quanto mais reformas forem adotadas, menor será o ajuste fiscal necessário para pressões de longo prazo, argumento relevante diante do envelhecimento populacional, da transição energética e do aumento de despesas com defesa.
O FMI projeta piora no saldo orçamental da zona do euro, com destaque para aumento de 0,8 pontos percentuais no défice alemão, resultante de gastos com infraestrutura e capacidade militar. A combinação de crescimento modesto com pressões fiscais crescentes estreita a margem de manobra dos governos europeus.
Uma pesquisa da YouGov em cinco países europeus revelou que 55% dos líderes empresariais consideram a sustentabilidade essencial para a competitividade, desmontando a narrativa de que a desregulação ambiental seria prioridade. O estudo, divulgado em outubro, mostra que 48% dos empresários admitem que a indefinição regulatória está atrasando investimentos, indicador de que a incerteza pode ser mais prejudicial que a regulação em si.






