A Finlândia recrutou alguns dos mais conhecidos influenciadores digitais do país para reforçar a luta contra o coronavírus. Com a iniciativa, os finlandeses tentam levar informações confiáveis sobre a pandemia ao maior número possível de pessoas – e em todos os canais que elas usam hoje para se manterem atualizadas.
Segundo Päivi Anttikoski, diretora de comunicações do governo, a Finlândia é, possivelmente, o único país do mundo ter incluído as redes sociais entre os “serviços essenciais” na pandemia. Nesse grupo estão médicos, motoristas de ônibus e funcionários de supermercados, o que atesta a importância dada pelos finlandeses a esses canais para que as informações cheguem à população.
“Nós podemos alcançar grande parte do público na Finlândia por meio de comunicados oficiais e da mídia tradicional”, afirma a diretora, segundo registro do jornal britânico The Guardian. “Mas está claro que as mensagens das autoridades nem sempre chegam a todos os grupos populacionais.”
Parceiros
O projeto está sendo desenvolvido em parceria entre o governo e a Mediapool, produtora de conteúdos digitais de Helsinque, que ajuda a definir o formato mais adequado das informações para cada fatia do público. Outra consultoria, a PING Helsinki, edita anúncios do governo para que eles se encaixem em formatos de redes sociais.
O material é então enviado a 1,5 mil influenciadores que fazem parte da rede de contatos da empresa. Os influenciadores têm liberdade para usar textos e imagens da maneira que quiserem. “Essa é uma forma de os influenciadores digitais terem à mão informações confiáveis sobre o coronavírus, o que as coloca em todos os canais no momento certo”, disse a empresa. “Trabalhando juntos, podemos impedir a disseminação de informações falsas.”
Projeto começou muito antes da pandemia
A pandemia da covid-19, infecção respiratória causada pelo novo coronavírus, eclodiu em 2020, mas a Finlândia começou a se preparar para um cenário como o atual há dois anos. Segundo a PING, em 2018, o governo estabeleceu as diretrizes do projeto que, naquele momento, parecia tratar de algo “muito distante, de longo prazo”.
A Finlândia queria desenvolver ferramentas para aumentar a credibilidade dos influenciadores digitais e garantir informações confiáveis em situações de crise. “Nós nos perguntamos se não seria uma reação exagerada”, afirmou a consultoria. “Que situação de crise poderíamos enfrentar?”
A empresa elaborou um guia de uso de redes sociais com orientações sobre o que fazer e não fazer durante a crise do coronavírus. Entre as recomendações estão a de parar e pensar antes de compartilhar conteúdos; revisar os conteúdos usando senso crítico; distinguir fato de opinião; checar fatos e jamais compartilhar informações falsas.
Diferentes formatos para diferentes públicos
“A crise do coronavírus mostra como o pânico se espalha nas redes sociais”, disse à emissora pública finlandesa Yle Emmi Nuorgam, escritora, jornalista, blogueira e também uma conhecida influenciadora digital finlandesa. “É muito difícil controlá-lo se as informações das autoridades não chegarem onde as pessoas estão.”
Um exemplo prático pode ser visto no canal do youtuber Roni Back, que tem mais de meio milhão de inscritos. Popular entre adolescentes, Back, de 26 anos, costuma produzir vídeos sobre jogos eletrônicos ou temas do cotidiano. No dia 18 de março, no entanto, ele levou ao ar um vídeo com entrevistas com autoridades de saúde sobre o coronavírus. Em menos de duas semanas, a peça atingiu quase 120 mil visualizações.
Boa parte do público que assistiu ao vídeo não teria recebido essas informações de outra forma, argumenta Emmi Nuorgam. “Hoje em dia, as pessoas se informam de maneiras diferentes”, diz ela.