Depois de 34 anos, chegou ao fim nesta quarta-feira (10/6) o mistério sobre um dos crimes que mais intrigaram a Suécia em sua história: o assassinato do ex-premiê Olof Palme. O líder social-democrata cumpria seu segundo mandato como primeiro-ministro quando foi morto com um tiro pelas costas na rua mais movimentada de Estocolmo. Segundo a revelação desta quarta, o autor do disparo foi Stig Engstrom, um designer gráfico que cometeu suicídio em 2000.
O crime ocorreu quando Palme e sua esposa, Lisbeth, voltavam para casa a pé depois de terem ido ao cinema. O primeiro-ministro havia dispensado seus guarda-costas naquele dia. Dezenas de pessoas testemunharam que um homem atirou e saiu correndo, mas o assassino jamais foi identificado. Com a descoberta, as autoridades suecas vão poder enfim encerrar o caso. O filho de Palme, Marten, declarou a uma rádio do país que acredita no resultado da investigação e que a decisão de concluí-la é correta.
A arma do crime não foi encontrada e nenhum novo indício forense foi descoberto, mas, com base nos depoimentos de Engstrom, a promotoria pública concluiu que suas versões para os eventos daquele dia não faziam sentido. “Ele agiu como nós acreditamos que o assassino agiria”, disse o chefe dos promotores públicos, Krister Petersson.
O governo Palme – e teorias da conspiração
Olof Palme foi primeiro-ministro da Suécia por mais de dez anos, divididos em dois mandatos. Entre as grandes marcas de seu governo estão a criação de creches e pré-escolas, que permitiu o acesso de mulheres ao mercado de trabalho, e a ampliação do sistema de saúde e bem-estar social. Ele também aumentou o poder dos sindicatos e tirou os poderes políticos da monarquia. No plano internacional, o líder social-democrata criticava abertamente a invasão soviética à Tchecoslováquia, ocorrida em 1968, o bombardeio do Vietnã pelos Estados Unidos e também o regime do apartheid na África do Sul.
Esses posicionamentos formam o pano de fundo de algumas das inúmeras teorias da conspiração que surgiram após o crime. A polícia sueca chegou a viajar para a África do Sul em 1996 para investigar a hipótese de sul-africanos defensores do apartheid terem participado do homicídio, por exemplo. Houve ainda teses de que o homicídio teria sido cometido por ativistas curdos, por um chileno defensor do ditador Augusto Pinochet, de quem Palme era crítico, por policiais suecos envolvidos em um complô, por integrantes de um obscuro acordo de fornecimento de armas suecas à Índia ou ainda a partir de uma intrincada colaboração entre a CIA, a agência americana de inteligência, e a maçonaria italiana.
Jornalista foi quem primeiro identificou o assassino
Os investigadores ainda não conseguiram formar um quadro completo sobre os motivos que levaram Stig Engstrom a matar o premiê. Milhares de pessoas foram entrevistadas como parte do inquérito (incluindo o próprio Engstrom, que se apresentou como testemunha). Inicialmente, ele não era o foco principal das investigações. Mais adiante, no entanto, as autoridades descobriram que Engstrom tinha familiaridade com armas de fogo, tendo servido no Exército e participado de clubes de tiro. Ele também fazia parte de um círculo de críticos de Palme, e parentes diziam que ele não gostava do premiê.
O caso intrigou o país ao longo dessas mais de três décadas. Entre os vários suecos obcecados com o crime estava o escritor Stieg Larsson, autor da trilogia Millennium. A série de livros é uma das de maior sucesso internacional do gênero conhecido como noir nórdico, no qual investigações de crimes misteriosos – como foi o assassinato do ex-primeiro-ministro – são um elemento sempre presente.
A polícia começou a rever a possibilidade de Engstrom ser o assassino 18 anos após sua morte. Ele foi identificado como suspeito pela primeira vez em uma reportagem publicada na revista Filter (o material está neste link, em sueco) pelo jornalista Thomas Pettersson, que investigou o caso por conta própria por 12 anos. Coincidentemente, Stieg Larsson também era jornalista, assim como Mikael Blomkvist, protagonista da série Millennium. Larsson morreu em 2004 sem ver desvendado o mistério sobre o assassinato de Olof Palme.
Segundo Pettersson, a motivação do assassino teria sido muito mais mundana do que sugeriam as teorias da conspiração. “Ele não tinha avançado em seu trabalho nem alcançado posições que achava que merecia. Não tinha família nem perspectivas. Naquele ponto da vida – Engstrom tinha então 52 anos -, ele era um homem desiludido, mas, ao mesmo tempo, queria ser reconhecido, fazer algo grande”, disse Pettersson ao jornal The New York Times. “Ele queria atenção.”