O acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, finalmente assinado após décadas de negociações, é uma oportunidade histórica para ambas as regiões, mas também impõe desafios significativos, segundo análise de Roberto Dumas, professor do Insper. Para ele, o pacto tende a ser benéfico no longo prazo, porém exige ajustes estruturais no Brasil e enfrenta resistências políticas dentro da Europa.
Dumas aponta que o acordo reduz tarifas de importação entre os blocos, beneficiando principalmente o agronegócio brasileiro, embora com impacto limitado. Em 2023, o Brasil exportou R$ 170 bilhões em produtos agropecuários, sendo apenas 15% destinados à Europa. Apesar disso, ele destaca a importância estratégica do mercado europeu:
Exportar para a União Europeia é uma grande vitrine. Se conseguimos exportar para a UE, certamente abrimos portas em outros mercados, como Japão e Coreia
No contexto europeu, o professor vê o acordo como uma solução para o isolamento geopolítico e os desafios econômicos enfrentados pela UE, incluindo o envelhecimento populacional, o impacto da guerra na Ucrânia e a dependência de cadeias globais de suprimentos. Ele ressalta que a diversificação de mercados é crucial para a Europa competir com as economias asiáticas em crescimento.
Do lado brasileiro, Dumas alerta para o risco de desindustrialização diante da dificuldade de competir com produtos europeus de maior valor agregado, como carros, produtos farmacêuticos e equipamentos elétricos. Ele destaca que o país tem um bom prazo para se adaptar: “Ainda temos 15 anos para melhorar nossa produtividade e infraestrutura. É essencial investir em educação básica, reduzir custos logísticos e aumentar a competitividade do trabalhador brasileiro.”
Ele critica o histórico de falta de planejamento do país e menciona que problemas estruturais, como a baixa produtividade e a infraestrutura deficiente, devem ser tratados com urgência para que o Brasil possa aproveitar plenamente os benefícios do acordo. Enquanto a Europa busca diversificar suas cadeias de suprimentos e enfrentar desafios globais, o Brasil tem a oportunidade agora de se posicionar como um player relevante no comércio internacional, desde que consiga alinhar reformas internas à nova realidade global, raciocina.
Dumas também observa a resistência interna na Europa, liderada pela França, que tenta influenciar outros países para bloquear a ratificação do acordo devido a preocupações ambientais e concorrência com o agronegócio sul-americano. Apesar disso, ele acredita que o pacto é essencial para a Europa em termos de estratégia global.
Para Roberto Dumas, o acordo Mercosul-UE é positivo para a economia brasileira como um todo, mas representa um alerta: o país precisa adotar medidas estruturais para melhorar sua competitividade nos próximos anos.