Europa tem maior acesso a direitos, mas baixo engajamento no trabalho, conclui estudo da IC

Alessandro Janoni, diretor de Pesquisas e Tendências da Imagem Corporativa 16 de agosto de 2023 5 minutos
Europeanway

Área agregada de Austrália e Nova Zelândia consegue melhor desempenho em ranking

Tendências recentes do mercado de trabalho, como a falta de engajamento (quiet quitting) e a “grande renúncia” (great resignation), têm sido exploradas sob diferentes aspectos em pesquisas de opinião, geralmente associadas a reflexos da pandemia, características geracionais e perfis de comportamento social.

Um exemplo é o levantamento do Pew Research Center realizado em fevereiro deste ano junto a quase 6 mil trabalhadores dos EUA, que mostra a correlação de variáveis como idade e renda com o grau de satisfação que os americanos demonstram sobre o emprego atual.

Estudo de maior abrangência, o “State of The World Workplace”, relatório anual do instituto Gallup, investiga a relação com o trabalho em 160 países, agregados em 10 macrorregiões, com métricas sobre engajamento, sentimentos e clima organizacional.

São raros, no entanto, dados que contemplem direitos trabalhistas na matriz de avaliação. Nesse contexto, o “Global Rights Index”, da ITUC (International Trade Union Confederation) traz uma escala de violação a direitos fundamentais dos trabalhadores em 163 países, segundo indicadores da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Para ilustrar o papel dessa variável na relação entre cidadãos e o mercado de trabalho, a Imagem Corporativa desenvolveu um ranking que combina esses dois últimos estudos por meio de cálculo aproximado dos países contemplados em ambos, utilizando-se como referência as áreas agregadas da pesquisa Gallup.

Do instituto, também foram usados os dados de engajamento, ausência de sentimentos negativos, percepção sobre oportunidades e intenção de permanecer no emprego. Os índices dos direitos trabalhistas da ITUC são então projetados sobre as regiões correspondentes por meio da padronização do escore (de zero a 1).

Zero é o extremo negativo nas relações com o trabalho e 1, o extremo positivo.

A área agregada de Austrália e Nova Zelândia lidera o ranking de relações com o trabalho – tem 0,57 pontos contra 0,53 dos países europeus. Em terceiro, aparecem Estados Unidos e Canadá com 0,49, à frente da América Latina e Caribe (0,47). Com escores próximos à média global estão as regiões da Eurásia (Russia incluída), África Subsaariana e o Sudeste Asiático. Apresentam indicadores abaixo desse patamar a Ásia Oriental (área que inclui China), o Sul da Ásia (que inclui Índia) e na última posição a região do Oriente Médio, agregado ao Norte da África, com 0,31 pontos.

A Europa, região líder em acesso a direitos trabalhistas pelo índice ITUC (taxa de países com restrições à liberdade de expressão oscilou de 15% em 2022 para 13% em 2023), só não fica em primeiro lugar no ranking de relações com o trabalho por conta do baixo engajamento de seus cidadãos com os empregos atuais – 13% revelam o perfil na escala Gallup contra 23% na amostra global.

 

A área que agrega Austrália e Nova Zelândia (especialmente esta última) também tem nível de respeito a direitos acima da média, além de maior engajamento (23%) e melhor percepção sobre oportunidades no mercado (81% contra 53% no total das regiões contempladas).

No extremo oposto, Oriente Médio e Norte da África se equipara à Asia Oriental em violações a direitos fundamentais – a grande maioria dos países possui restrições severas à liberdade de expressão e em boa parte há reações violentas contra manifestações de trabalhadores.

No entanto, apesar de ambas as regiões apresentarem dados abaixo da média em quase todos os vetores de composição do índice, na área que contempla a China percebe-se indicadores um pouco mais positivos na relação com o trabalho – metade dos entrevistados pelo Gallup diz que este é um bom momento para se encontrar um emprego, por exemplo.

Ao se focalizar as Américas, a taxa de engajamento supera a média tanto no conjunto “Estados Unidos e Canadá” quanto no de “América Latina e Caribe” (31% em ambos). No primeiro, há melhor percepção sobre oportunidades no mercado de trabalho (71%), enquanto no segundo as ocorrências de sentimentos negativos associados ao emprego ficam abaixo da média – 41% admitem estresse (contra 44% na amostra global) e 13% “raiva” (contra 21% no total).

Considerando-se dados com base para análise estatística segura, o Brasil tem desempenho abaixo da média no conjunto dos países da América Latina, tanto em direitos quanto nas variáveis de sentimentos e oportunidades (44% contra 52% na amostra do bloco). Apresenta, no entanto, nível de engajamento próximo ao da região (28%).

De um modo geral, como era de se esperar, os dados sugerem que a garantia de direitos fundamentais tem impacto positivo sobre a relação de trabalhadores com suas ocupações. A análise não é conclusiva sobre o vetor engajamento, isoladamente. No caso, outros fatores, como valores sociais e culturais, podem pesar na equação e demandam aprofundamento. O equilíbrio entre esses vetores e percepção de bem-estar do cidadão deve indicar parâmetros de crescimento sustentável na busca por eficiência, aliada à reponsabilidade social.

Europeanway

Busca