Europa reformula plano americano e expõe racha transatlântico sobre paz na Ucrânia

25 de novembro de 2025 3 minutos
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A contraproposta de 19 pontos apresentada por Alemanha, França e Reino Unido ao plano de paz americano para a Ucrânia deixa claro que há um racha na aliança ocidental sobre como desenhar o futuro da segurança europeia. As negociações em Genebra mudaram substancialmente o documento original de 28 pontos da administração Trump, que foi mal recebido em Kiev e nas capitais europeias principalmente pelo que propunha sobre território e segurança.​

A proposta inicial dos Estados Unidos rompe com décadas de diplomacia ao sugerir que a Ucrânia reconheça territórios ocupados pela Rússia, como Crimeia, Luhansk e Donetsk, e ainda limitar o tamanho das forças armadas ucranianas. Mas o plano também inclui uma garantia de segurança nos moldes do Artigo 5 da Otan, mostrando a tentativa da Casa Branca de equilibrar dois objetivos difíceis: reduzir o envolvimento militar americano direto e ao mesmo tempo não perder a confiança dos aliados europeus.​

O que acontece no campo de batalha aumenta a pressão. A Rússia controla hoje cerca de 18% do território ucraniano e avançou mais de 2.800 quilômetros quadrados desde dezembro de 2023, sendo novembro o mês de maior conquista territorial desde o início da invasão. Essa realidade militar moldou o cálculo americano de que vale mais negociar um acordo do que continuar o conflito, algo que os europeus rejeitam.​

Europa propõe outro caminho para as garantias de segurança

A reformulação europeia mexe em três pontos fundamentais. Primeiro, não aceita reconhecer territórios ocupados antes das negociações, propondo que se parta da linha de contato atual. Segundo, aumenta o limite das forças armadas ucranianas para 800 mil soldados, contra os 600 mil propostos pelos americanos, refletindo a preocupação de que Kiev precisa ter capacidade de se defender sozinha.​

O terceiro ponto é mais complexo: posicionar caças da Otan na Polônia e dar à Ucrânia acesso aos ativos russos congelados para financiar sua reconstrução. Essas medidas tentam criar um sistema de contenção militar sem oferecer entrada formal na aliança atlântica, equilibrando a necessidade de dissuadir a Rússia sem provocar uma escalada permanente.​

A rejeição dura do Kremlin à contraproposta europeia, que Yuri Ushakov chamou de “absolutamente contraproducente”, deixa claro o fosso entre o que a Rússia espera e o que Kiev e seus aliados aceitam. Putin quer reconhecimento legal sobre territórios conquistados pela força, algo que Zelensky descreveu como legitimação de roubo territorial.​

O secretário de Estado americano Marco Rubio afirmou que nenhum ponto remanescente é “insuperável”, mas analistas identificam questões existenciais ainda sem solução. A viabilidade de qualquer acordo depende de Washington se comprometer com garantias de segurança de longo prazo à Ucrânia, algo que a história recente da política externa americana sugere ser incerto, principalmente considerando como as prioridades estratégicas mudam entre diferentes administrações.

 

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