
Belém viveu no último sábado (1º) uma prévia simbólica da COP30 e o olhar da Europa estava ali. O Global Citizen Festival: Amazônia, primeira edição latino-americana do evento, transformou o estádio Mangueirão em um palco de diplomacia climática, arte e engajamento. Entre as cerca de 50 mil pessoas que lotaram o estádio, a floresta e a urgência ambiental ganharam voz em uma narrativa que une cultura, política e ação concreta, temas centrais também na agenda europeia de transição verde.
A campanha Protect the Amazon anunciou ter superado a meta de 1 bilhão de dólares em compromissos para proteger a floresta e fortalecer comunidades locais. Parte relevante desses recursos vem de países europeus, protagonistas na cooperação internacional pela Amazônia. A Alemanha destinou 23 milhões de dólares ao Legacy Landscapes Fund para proteger áreas de biodiversidade crítica. A Noruega, principal doadora do Fundo Amazônia, reafirmou sua parceria histórica com o Brasil. França e Reino Unido se uniram a novas coalizões pelo financiamento climático. Esses movimentos reforçam a posição da Europa como parceira-chave na arquitetura global do financiamento verde, um tema que estará no centro das negociações da COP30, quando o bloco europeu buscará consolidar mecanismos de transparência, rastreabilidade e resultados mensuráveis no uso dos recursos.
No palco, estrelas internacionais ecoaram mensagens alinhadas à pauta europeia de justiça climática. Chris Martin, do Coldplay, transformou o estádio em assembleia popular ao ar livre ao cantar A Sky Full of Stars sob projeções da floresta. Anitta encerrou a noite ao lado da família do cacique Raoni, símbolo da luta indígena reconhecido mundialmente, inclusive por instituições europeias. Artistas locais como Gaby Amarantos, Djuena Tikuna e o Arraial do Pavulagem reforçaram o elo entre cultura amazônica e diplomacia climática, uma conexão cada vez mais valorizada em fóruns europeus.
O impacto do festival também foi medido em resultados, algo essencial à lógica de governança ambiental da União Europeia. Em um ano, a campanha mobilizou 4,4 milhões de ações cidadãs voltadas à proteção e restauração de 31 milhões de hectares, beneficiando 18 milhões de pessoas. O recado, amplificado por transmissões internacionais, é que entretenimento e política climática podem caminhar juntos desde que acompanhados de métricas e auditorias, princípio que inspira a própria política verde europeia.
Nos bastidores, os compromissos do festival refletem um modelo de cooperação que também interessa a Bruxelas. O Banco do Brasil e o Banco da Amazônia anunciaram investimentos combinados de quase 300 milhões de dólares para conservação e energia limpa. O Crop Trust, com sede em Bonn, destinou 10 milhões para preservar 300 mil variedades de sementes ameaçadas, contribuindo para a segurança alimentar global, um dos pilares do Pacto Verde Europeu.
A produção do evento também buscou coerência entre discurso e prática. Toda a operação foi movida a baterias, biocombustíveis e energia solar, com compensação de carbono certificada por auditores independentes. É o tipo de rigor ambiental e mensuração de impacto que o bloco europeu espera ver replicado em Belém, na chamada COP da Verdade, conferência que precisa transformar promessas em entregas verificáveis.
Ao final, a mensagem que ecoou entre Belém e Bruxelas foi clara: a Amazônia é parte do futuro climático da Europa. Não apenas como destino de financiamento, mas como parceira estratégica em biodiversidade, energia limpa e justiça social. Se a música que ecoou no Mangueirão foi a trilha sonora de um pacto simbólico, o desafio europeu agora é transformar essa sinfonia de compromissos em políticas e resultados tangíveis para o planeta.






