Europa reduz presença na COP30 em meio à crise de custos e mudanças geopolíticas

13 de novembro de 2025 4 minutos
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A União Europeia e a China reduziram drasticamente suas delegações oficiais para a COP30 em Belém, refletindo uma combinação de pressões orçamentárias, desafios logísticos e possível recalibração das estratégias climáticas internacionais. Os dados preliminares apontam para uma conferência significativamente menor que sua antecessora em Baku.

A delegação chinesa registrou 114 participantes para a conferência brasileira, uma queda de 40% em relação aos 190 membros enviados ao Azerbaijão em 2024, segundo levantamento da Folha de S.Paulo que comparou as listas provisórias divulgadas pela ONU. A redução havia sido sinalizada em agosto pelas autoridades chinesas, mas sem explicações oficiais. Quando procurada pela Folha, a embaixada da China no Brasil não respondeu aos questionamentos sobre os motivos da diminuição.

Os 27 países da União Europeia cortaram suas comitivas de forma ainda mais acentuada. Somados, os Estados-membros inscreveram 790 representantes, uma redução de 46% em comparação aos 1.456 delegados da COP29. A Alemanha liderou os cortes em termos absolutos, reduzindo sua presença pela metade: de 177 para 87 participantes. A Folha procurou a chefia da delegação europeia no Brasil, mas não obteve retorno.

A Itália cortou 54% de sua delegação, enquanto a Bulgária apresentou a redução mais dramática, passando de 68 para apenas 4 representantes. A Polônia também encolheu significativamente sua comitiva, de 49 para 14 membros. Apenas a França aumentou sua presença, de 63 para 80 delegados.

O fator mais imediatamente tangível para essas reduções parece ser a crise de acomodações em Belém. O custo das diárias em hotéis na capital paraense tornou-se um impasse diplomático, levando alguns países a questionar a viabilidade de sediar o evento na cidade amazônica. A ONU aumentou os subsídios para países insulares e nações menos desenvolvidas, elevando o valor diário de US$ 144 para US$ 197, mas isso não resolveu completamente o problema.

Segundo dados do governo brasileiro, até 7 de novembro, 27 países ainda negociavam hospedagem para o evento, enquanto 160 haviam confirmado reservas. O governo federal montou uma força-tarefa em agosto e contratou dois navios de cruzeiro para acomodar parte das delegações.

A ausência total dos Estados Unidos, que não enviaram representação oficial após o presidente Donald Trump fechar o escritório de diplomacia climática, representa outro fator de contexto. Na COP29, a delegação americana somava 247 membros. Embora existam participantes americanos não oficiais, incluindo ex-funcionários da administração Obama e governadores estaduais, a presença formal de Washington está zerada.

No total, a COP30 registrou 56,1 mil inscrições, uma redução de mais de 10 mil participantes em relação aos 66,7 mil registrados em Baku. As delegações oficiais dos países representam 20,5% desse total, com 11,5 mil pessoas, queda de 34,8% em comparação às 17,6 mil da conferência anterior.

Os pequenos Estados insulares, grupo de 39 nações ameaçadas pelo aumento do nível do mar, reduziram suas equipes em 21%, de 1.211 para 957 participantes. As nações menos desenvolvidas cortaram 4% de suas comitivas, e o grupo africano, com 54 países, diminuiu sua presença em 6%.

A presidência da COP30 evitou comentar as comparações com edições anteriores, afirmando que cada conferência opera sob “circunstâncias logísticas distintas”. A postura reflete a sensibilidade do tema, uma vez que números menores podem ser interpretados como perda de ímpeto político na agenda climática, justamente quando a comunidade científica alerta para a urgência de medidas mais ambiciosas.

A conferência, que ocorre até 21 de novembro no Hangar Centro de Convenções, tem como principal objetivo estabelecer um roteiro de ação para a próxima década e finalizar a implementação dos compromissos do Acordo de Paris. O Brasil propõe o lançamento do Tropical Forests Forever Facility, um fundo de US$ 125 bilhões para conservação florestal em países tropicais.

Os números preliminares, embora sujeitos a mudanças até o fim da conferência, sugerem que a combinação de custos proibitivos, recalibração orçamentária pós-pandemia e mudanças no cenário geopolítico estão moldando uma COP com características distintas de suas antecessoras mais recentes.

 

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