
“União Europeia adverte que tarifa de 30% imposta por Trump pode eliminar o comércio entre os dois mercados”, estampa nesta segunda-feira a manchete do jornal inglês de economia e negócios Financial Times. A publicação traz uma densa análise da imposição de uma tarifa de 30% sobre importações do bloco pelos Estados Unidos, anunciada no fim de semana com entrada em vigor prevista para 1º de agosto.
O comissário de comércio da UE, Maroš Šefčovič, afirma que “as cadeias de suprimento seriam duramente afetadas com a medida nos dois lados do Atlântico. Mostre-me uma liderança da área industrial que está satisfeito com essa política tarifária”, afirmou.
A União Europeia entrou, mais uma vez, no centro de uma escalada tarifária liderada pelo presidente Donald Trump depois que este retomou sua alegação de que existem desequilíbrios comerciais persistentes e falta de reciprocidade na relação com o bloco. A decisão, que também atinge outros 24 países, eleva o tom das tensões transatlânticas e reacende o risco de uma guerra tarifária que pode comprometer até US$ 235 bilhões em comércio bilateral por ano.
Diplomacia na corda bamba
Diante da pressão, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, anunciou no domingo (13) a extensão da suspensão do pacote retaliatório europeu, inicialmente previsto para entrar em vigor nesta segunda-feira. O pacote teria como alvo US$ 24,6 bilhões em produtos americanos, incluindo itens farmacêuticos, agrícolas e industriais. Uma segunda leva, de €72 bilhões, já está em análise técnica desde maio, mas sua ativação dependerá da evolução das negociações.
“Vamos usar o tempo até 1º de agosto para tentar uma solução negociada”, afirmou Von der Leyen. “Mas também continuamos preparando contramedidas para garantir que estejamos plenamente prontos para agir.” A Comissão Europeia, segundo fontes diplomáticas, também avalia o uso do Instrumento Anticoerção, criado em 2022 para proteger os Estados-membros de pressões econômicas estrangeiras, embora a própria presidente tenha afirmado que “ainda não chegamos a esse ponto”.
Líderes europeus demonstraram alinhamento em torno de uma resposta firme, ainda que calibrada. Emmanuel Macron reforçou a expectativa de que a Comissão Europeia atue com assertividade na defesa dos interesses do bloco, enquanto o chanceler alemão Lars Klingbeil destacou a necessidade de negociações sérias, deixando claro que a Europa não aceitará termos desfavoráveis. No Parlamento Europeu, o clima também é de frustração com a postura americana, e a sinalização é de apoio à adoção de contramedidas proporcionais caso o diálogo fracasse.
A tensão não é apenas simbólica. Segundo dados do Escritório do Representante de Comércio dos EUA, o déficit comercial dos EUA com a UE em 2024 foi de US$ 235,6 bilhões (€ 202 bilhões). Para Trump, este desequilíbrio justifica a taxação. Para Bruxelas, trata-se de um argumento anacrônico e unilateral.
Impactos econômicos em cadeia
A UE exporta anualmente cerca de €822 bilhões para os EUA, com destaque para setores como farmacêutico, aeronáutico, automotivo e bebidas alcoólicas. A nova tarifa pode representar uma perda de competitividade imediata para empresas europeias, além de provocar rupturas logísticas. A associação alemã da indústria automobilística alertou para o aumento de custos e o risco de perda de empregos na cadeia de fornecedores.
Além da UE, outros 24 países receberam cartas de Trump com tarifas específicas. Vietnã, México, Japão, Coreia do Sul e Canadá também foram atingidos, em diferentes graus. A retórica é clara: ou negociam nos termos americanos, ou enfrentam o custo de não fazê-lo. No caso do Brasil, variáveis políticas levaram a uma taxação ainda mais alta, de 50%.
Nas próximas semanas, ministros de comércio e líderes nacionais manterão uma agenda intensa em Bruxelas. A expectativa é encontrar uma “linha comum” que preserve o espaço de diálogo, mas sem renunciar à proporcionalidade na resposta.
A própria Von der Leyen já sinalizou que, embora a prioridade continue sendo o acordo negociado, medidas necessárias serão tomadas para proteger os interesses europeus. “Poucas economias no mundo se igualam ao nível de abertura e adesão às práticas comerciais justas como a União Europeia”, afirmou a presidente da Comissão.