
A União Europeia garantiu isenção parcial das novas tarifas norte-americanas sobre semicondutores após semanas de incerteza que vinham pressionando os mercados e ameaçando parte do setor industrial europeu. Segundo a Comissão Europeia, os chips produzidos por empresas do bloco e exportados para os Estados Unidos serão submetidos a uma tarifa máxima de 15%, mesmo após o presidente Donald Trump anunciar a intenção de impor uma taxa de até 100% sobre semicondutores estrangeiros.
O compromisso foi firmado após negociações diretas entre Bruxelas e Washington, lideradas pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Como contrapartida, o bloco europeu se comprometeu com uma meta ambiciosa de até 600 bilhões de dólares em investimentos no mercado norte-americano, valor que depende em grande parte da iniciativa privada. A decisão traz alívio para fabricantes europeus que enfrentavam o risco de sofrer perdas severas diante de um novo ciclo de protecionismo americano.
Esse limite tarifário será mantido independentemente de outras medidas unilaterais adotadas pelos Estados Unidos, afirmou Olof Gill, porta-voz da Comissão Europeia.
A medida representa um ponto de inflexão nas tensões comerciais entre as duas potências e ocorre em um momento em que os Estados Unidos investigam sua própria cadeia de suprimentos de semicondutores com base na Seção 232 da Lei de Expansão Comercial, a mesma utilizada por Trump para justificar tarifas sobre aço e alumínio em seu primeiro mandato.
Embora o anúncio do presidente tenha incluído a retórica habitual – promessas de industrialização doméstica, penalização de importações e crítica à dependência externa – a ausência de detalhes regulatórios gerou desconforto no setor. Trump afirmou que chips importados sofreriam tarifas elevadas, mas não especificou quando a medida entraria em vigor nem se abrangeria produtos finais que contenham semicondutores.
A falta de clareza aumentou o grau de imprevisibilidade para fabricantes de componentes e produtos eletrônicos em todo o mundo. Ao garantir um teto tarifário estável para as exportações europeias, o acordo oferece uma rota de previsibilidade para empresas como ASML, Infineon, STM e ASM International, cujas ações subiram fortemente após o anúncio.
O alívio para a Europa ocorre em meio a uma onda de investimentos no setor. Fabricantes asiáticos como TSMC e Foxconn anunciaram recentemente novos aportes nos Estados Unidos, acompanhando o movimento da Apple, que prometeu investir 100 bilhões de dólares em fábricas americanas. Os anúncios sugerem uma reconfiguração da cadeia global de produção de chips sob forte influência das decisões políticas de Washington.
Trump tem promovido um modelo de incentivo via ameaça. Empresas que investem nos Estados Unidos são recompensadas com isenção tarifária, enquanto as demais enfrentam a perspectiva de custos crescentes. A Intel e a Nvidia já colhem os frutos dessa abordagem, ao passo que fabricantes menores, especialmente na Europa e na Ásia, demonstram preocupação com sua capacidade de atender às exigências norte-americanas.
Empresas de médio porte dificilmente terão escala ou capital para construir fábricas nos Estados Unidos e escapar da tarifa, afirmou Martin Chorzempa, pesquisador do Peterson Institute for International Economics.
Apesar do acordo com a União Europeia, o impacto real das tarifas dependerá de como a política será implementada. Parte dos chips importados chega aos Estados Unidos incorporada a produtos finais, como automóveis, eletrodomésticos e smartphones. Ainda não está claro se o governo americano aplicará tarifas apenas sobre chips brutos ou também sobre os embutidos em dispositivos.
Para empresas como a Adafruit Industries, fabricante de eletrônicos com sede em Nova York, o cenário é de incerteza. Estamos aguardando uma diretriz oficial, afirmou sua fundadora Limor Fried. Nossos custos podem disparar se os chips que usamos forem taxados.
Durante a pandemia, gargalos na produção de semicondutores contribuíram para a alta dos preços de carros e bens duráveis. A preocupação, agora, é que novas tarifas levem a um cenário semelhante com consequências inflacionárias.
Para Bruxelas, o acordo representa uma vitória política e econômica parcial. Ao evitar a tarifa máxima, a União Europeia protege parte de sua indústria estratégica e demonstra capacidade de negociação em um cenário global fragmentado. Ainda assim, o pacto revela os limites da autonomia europeia em setores cruciais como o de tecnologia avançada, onde a dependência externa permanece elevada.