Europa busca seu próprio Vale do Silício para rivalizar com EUA e China

21 de outubro de 2024 3 minutos
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Nos últimos séculos, a Europa foi protagonista de momentos históricos que moldaram o mundo moderno — das grandes navegações à Revolução Industrial. No entanto, quando se trata de tecnologia e inovação, o continente parece ter ficado para trás, superado pelos gigantes tecnológicos dos Estados Unidos e da China.

Em uma tentativa de recuperar o terreno perdido, líderes do setor de tecnologia fizeram um apelo ambicioso: criar uma estrutura unificada para promover startups e impulsionar a inovação no bloco. Em uma carta aberta, executivos como Patrick Collison (CEO da Stripe), Taavet Hinrikus (cofundador do Wise) e Ilkka Paananen (CEO da Supercell) pediram a criação de uma entidade semelhante ao que o Vale do Silício representa para os EUA, uma “EU Inc.”, que teria como missão fomentar um ecossistema mais colaborativo e competitivo para as empresas europeias.

No cerne do problema apontado pelos empresários está a fragmentação do cenário de startups na Europa. Embora o continente tenha um número crescente de empresas emergentes e um ambiente de capital de risco que levantou cerca de US$ 45 bilhões em 2023, o ecossistema tecnológico europeu continua ofuscado pelos EUA, que no mesmo período captaram US$ 120 bilhões em investimentos.

Além do volume de investimentos, há uma preocupação latente com a burocracia e a dificuldade de transitar entre os mercados internos da União Europeia. “A conformidade legal e regulatória é um fardo, e a colaboração transfronteiriça é rara”, destaca a carta. Isso cria barreiras significativas para startups que buscam expandir suas operações, inibindo o potencial de crescimento e inovação.

A EU Inc., proposta pelos empresários, visa corrigir essas falhas ao padronizar processos de investimento, simplificar operações internacionais e criar uma estrutura unificada para opções de ações de funcionários. Essa iniciativa seria um passo crucial para incentivar empresas a crescerem rapidamente e competirem de forma mais eficaz no cenário global, onde China e EUA dominam.

O apelo dos empresários vem em um momento crítico para a Europa. O ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, divulgou recentemente um relatório que destaca a necessidade urgente de reformas estruturais e investimentos massivos para tornar o bloco competitivo no cenário internacional. Draghi sugeriu um adicional de 800 bilhões de euros em investimentos anuais para acelerar áreas como inovação tecnológica, argumentando que a Europa ainda está “presa em uma estrutura industrial estática”, incapaz de competir com as potências globais.

Esse cenário de estagnação industrial não é novidade, mas a diferença agora é a velocidade com que as mudanças tecnológicas acontecem. Enquanto as big techs americanas (Amazon, Google, Apple, Meta, Microsoft) e as gigantes chinesas (Alibaba, Tencent, ByteDance, Baidu) dominam o setor de tecnologia, a Europa luta para criar suas próprias titãs. O fato de o continente não ter uma única big tech nascida em solo europeu é um sinal claro de que algo precisa mudar.

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