Europa atrai cientistas dos EUA diante de cortes impulsionados por Trump

17 de abril de 2025 3 minutos
shutterstock

A ciência norte-americana vive um paradoxo: mesmo com o status histórico de polo global da pesquisa, os Estados Unidos estão vendo uma silenciosa debandada de cérebros. A razão? Cortes orçamentários promovidos pela administração Trump que afetam diretamente universidades, centros de excelência e pesquisadores ligados a agências federais. O resultado é um movimento crescente de cientistas norte-americanos em direção à Europa, onde governos buscam transformar o desmonte científico dos EUA em oportunidade estratégica.

O caso do biólogo David Die Dejean, dispensado da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica), ilustra essa nova dinâmica. Após ser demitido durante o período probatório — uma medida comum em reorganizações administrativas — o pesquisador voltou os olhos para o continente europeu. “Quero trabalhar onde me permitam fazer pesquisa”, disse, destacando a frustração com a politização crescente da ciência nos Estados Unidos.

Embora o governo Trump justifique os cortes como uma forma de enxugar gastos e combater o déficit, a medida afeta diretamente áreas-chave da economia do conhecimento, um dos principais motores de crescimento do país. Instituições como Yale, Columbia e Johns Hopkins relataram perdas de financiamento que comprometem bolsas, projetos e postos de trabalho. Em paralelo, aumentam as críticas sobre motivações ideológicas por trás da tesoura — especialmente frente às restrições orçamentárias voltadas a programas de diversidade, equidade e inclusão.

Na Europa, o movimento é outro. Países como Alemanha, França, Espanha e Bélgica assinaram uma carta conjunta pedindo à Comissão Europeia que atue rapidamente para acolher os pesquisadores impactados. A resposta foi imediata: o Conselho Europeu de Pesquisa (ERC, na sigla em inglês) dobrou os recursos destinados à realocação de talentos científicos, passando para até 2 milhões de euros por cientista. A medida busca não apenas garantir continuidade a pesquisas de ponta, mas também fortalecer a competitividade europeia em setores estratégicos como biotecnologia, energia renovável e inteligência artificial.

Em um mundo cada vez mais moldado pela disputa por conhecimento e inovação, a reconfiguração do mapa da ciência global deixa um alerta: quando a política interfere na liberdade acadêmica e na estabilidade institucional, o prejuízo vai muito além das estatísticas orçamentárias. Vai direto ao coração da capacidade de um país imaginar, desenvolver e liderar o futuro.

 

Europeanway

Busca